Plano do governo Lula de cortar benefício de militares pode poupar acusados de golpe

Governo Lula quer aproveitar momento de vulnerabilidade na imagem das Forças Armadas para acelerar tramitação de propostas que enxugam gastos nas Forças Armadas

Valter Campanato/Marcelo Camargo/Agência Brasil
Foto: Valter Campanato/Marcelo Camargo/Agência Brasil

Entre as medidas enviadas pelo governo ao Congresso Nacional com o objetivo de enxugar os gastos públicos está o corte de benefícios pagos a militares. Um deles, no entanto, deve ser mantido ao grupo acusado de planejar um golpe de Estado, ainda que ele seja condenado.

Trata-se da morte ficta, termo que se refere ao pagamento de pensão a dependentes de militares expulsos das Forças Armadas. O benefício é pago ao cônjuge em valores proporcionais ao tempo de contribuição do detentor da patente, como se ele tivesse morrido.

Segundo o entorno de Lula, o presidente quer aproveitar a proximidade do julgamento de integrantes de militares denunciados por tentativa de golpe para acelerar a tramitação da proposta. A ideia é aproveitar um momento de enfraquecimento na imagem das Forças Armadas perante a opinião pública para facilitar a aprovação dos cortes no Congresso.

No entanto, há um entrave. Ainda que o benefício seja cortado antes do julgamento dos suspeitos de tramar um golpe, e se o grupo for condenado, o mais provável é que as cônjuges recebam o valor referente à morte ficta. Isso porque, como os acusados entraram nas Forças Armadas durante a vigência da regra, eles não perderiam o direito.

Esse entendimento não é pacífico nem nas Forças Armadas nem no Judiciário – e, portanto, será alvo de debates diante de eventuais condenações. A denúncia contra o núcleo militar da trama golpista será julgada a partir de 8 de abril. Se o STF concordar com a PGR (Procuradoria-Geral da República), será aberta uma ação penal e os acusados passarão à condição de réus.

Nessa fase das investigações, os militares ficarão impedidos de serem promovidos dentro das Forças Armadas, até que o processo chegue ao fim.

Após o trânsito em julgado em eventual condenação – ou seja, quando não houver mais recurso a ser examinado pelo STF -, os militares poderão ser julgados pelo STM (Superior Tribunal Militar) por crimes militares.

De acordo com a legislação, condenados a pena de reclusão superior a dois anos em processo criminal podem perder o posto e a patente por conduta incompatível com as Forças Armadas. Nesses casos, eles ficariam proibidos de usar a farda e não receberiam aposentadoria.

É nessa fase que deverá ser discutida a validade da morte ficta – se é que o governo vai conseguir derrubar o privilégio no Congresso.

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