O Primeiro Comando da Capital (PCC) mantinha um “plano de saúde” para os integrantes da sua cúpula ao custo de R$ 400 mil por mês, com direito a tratamentos e cirurgias com médicos especializados e até a massagistas. As informações integram a denúncia oferecida pelo Ministério Público Estadual de São Paulo (MPE) à Justiça contra 40 advogados ligados à organização e 14 detentos do grupo por crimes de associação criminosa armada e corrupção, que podem levar a 20 anos de prisão.

A denúncia de 690 páginas, obtida pelo Estado, esmiúça o funcionamento da chamada célula R, um aperfeiçoamento da antiga “sintonia dos gravatas”, advogados que representavam integrantes da facção. Trocas de mensagens com organogramas e pagamentos foram interceptadas. Segundo o MPE, as funções do grupo deixaram de ser exclusivamente jurídicas e passaram a funcionar como elo de comunicação das atividades criminosas entre os líderes presos e os que estão em liberdade.

Os profissionais passaram também a ser os responsáveis por “organizar e custear serviços médicos prestados aos presos integrantes da cúpula. “É certo que o pagamento de todos esses serviços expostos é feito com recursos de origem ilícita da própria organização criminosa, obtidos com o lucro do narcotráfico e demais crimes afins”, descreve o documento.

A investigação mostrou que a facção chegou a financiar cerca de 100 cirurgias no ano passado a membros do grupo, um procedimento a cada três dias; os custos chegavam a R$ 400 mil por mês e incluíam exames particulares de especialistas como fisioterapeutas, dentistas, dermatologistas e até massagistas. O atendimento ocorria prioritariamente a detentos da Penitenciária de Presidente Venceslau 2 e da unidade de Presidente Bernardes, onde cumprem pena os líderes do PCC.

“São benefícios que só quem tem plano de saúde, um bom plano, pode usufruir”, disse o promotor Lincoln Gakiya, do Grupo Especial de Atuação de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), de Presidente Prudente.

Os investigadores suspeitam que os procedimentos médicos tenham sido superfaturados, com a cobrança do triplo do valor comum de mercado para consultas, por exemplo. As cirurgias, autorizadas pela Justiça, não tiveram nota fiscal emitida e há a suspeita de que a facção estivesse também lavando dinheiro por meio dos atendimentos. Somente um dos profissionais contratados chegou a receber mais de R$ 100 mil em um mês.

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Operação

A investigação levou à deflagração da Operação Ethos, no dia 22 de novembro, e à prisão de 33 advogados e do agora ex-integrante do Conselho de Defesa de Direitos da Pessoa Humana (Condepe) Luiz Carlos dos Santos, também denunciado ontem. Nesta semana, 11 presos tiveram pedido de habeas corpus negado pelo Tribunal de Justiça.

Para o Ministério Público, os profissionais denunciados passaram a integrar o “quadro jurídico” do PCC e contribuíram e concorreram direta ou indiretamente “para o projeto de poder e esquema da maior organização criminosa do País”.

A investigação apontou que os profissionais tinham “plena consciência de que o dinheiro que movimentavam era oriundo do setor do ‘progresso’ (tráfico de drogas), da ‘cebola’ (mensalidade paga pelos integrantes) e das rifas” e usavam escritórios de fachada, que serviam “como ponto de apoio da organização”.

Entre os denunciados da cúpula da facção está Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, preso atualmente na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau. “Marcola e os demais integrantes da cúpula têm uma liderança sólida e sem oposição. Desde 2006, depois dos ataques, ele nunca mais deixou de liderar a facção criminosa”, disse o promotor Lincoln Gakiya.

Cartas interceptadas no âmbito do inquérito policial mostraram ainda a atuação da facção em demandas judiciais de presos detidos em Estados como Rio Grande do Norte, Brasília, Ceará, Paraná e Santa Catarina. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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