Os planos do Banco Central Europeu (BCE) de avançar seu programa de compra de ativos sobre o mercado de títulos corporativos tem causado preocupações em analistas. Isto porque, como aconteceu com o outro mercado sobre o qual atua, o de bônus cobertos, a presença do BCE pode drenar a liquidez deste mercado.

No último mês de março, a autoridade monetária europeia anunciou que irá comprar títulos corporativos no segundo trimestre, em um esforço para baixar os custos de financiamento em toda zona do euro. Inicialmente, o anúncio impulsionou os mercados de crédito e levou a uma enxurrada de novas emissões. Agora, parte dos investidores estão preocupados com o tamanho da participação do BCE neste mercado.

A preocupação toma por base o mercado de bônus cobertos, sobre o qual o BCE atua desde junho de 2009 mas cuja participação se intensificou após outubro de 2014. Atualmente, a instituição detém cerca de 200 bilhões em títulos do tipo, ou 28% do total circulante. Segundo estimativas do J.P. Morgan, a fatia do BCE pode chegar a 50% ao final deste ano.

Embora seja difícil de mensurar, a liquidez deste mercado recuou ao menos em uma medida. No primeiro trimestre de 2014, o volume médio negociado de bônus cobertos era de 13,3 bilhões. Nos três primeiros meses deste ano, ele caiu a 5,9 bilhões. Para analistas, o BCE abocanhou uma fatia tão grande do mercado que ficou difícil para investidores movimentarem grandes quantidades de ativos sem causar alterações significantes nos preços.

No mercado de títulos corporativos, a liquidez já está recuando, um problema regularmente citado por investidores dada a volatilidade que incita e as dificuldades que causa para quem deseja se desfazer de apostas que deram errado.

“Minha principal preocupação é a liquidez, que o BCE está tornando pior ao comprar bônus”, disse Chris Telfer, gerente de portfólio da ECM Asset Management. Para ele, será preciso um incremento na oferta para equilibrar a entrada da BC europeu.

O BCE não quis comentar o assunto.

Em janeiro, um levantamento feito pela Fitch mostrou que três quartos dos que investem em bônus cobertos estavam preocupados com o declínio da liquidez no mercado secundário.

“O BCE drenou a liquidez e empurrou investidores para fora do mercado”, disse David Riley, diretor de estratégia de crédito da BlueBay Asset Management.

Os temores, no entanto, não são generalizados. Para Nathaniel Rosenbaum, estrategista de crédito da Wells Fargo, as empresas da zona do euro irão emitir mais dívida ao passo que o BCE ajuda a reduzir os custos de financiamento no mercado.

Além disso, regras elaboradas pelo próprio BC significam que suas compras estão restritas a um terço do mercado, ao contrário do que acontece com o de bônus cobertos, onde a cobertura chega a 85%, de acordo com estimativas de Hanz Lorenzen, do Citigroup.

“Acredito que teremos um impacto muito menor, especialmente porque este é um mercado sobre o qual dois terços estão fora do escopo do BCE”, disse Lorenzen. Fonte: Dow Jones Newswires.