-Saiu! Saiu a lista nova! Saiu a lista!
Mais uma lista do Janot tinha sido publicada.
No Palácio, uma nova lista causava frisson.
Redobrava a esperança dos políticos por uma vida melhor.
Assim que liberada, um ajudante de ordens pendurava
a dita cuja num painel de cortiça ao lado do café.
Chovia político para ler.
Quando o nome aparecia na lista, o político em questão
não conseguia conter a emoção:
– Uhu!!!! É NÓIS!!!! Finalmente ele lembrou de mim, caceta!
Sair na lista de Janot significava ser alçado a uma nova fase da carreira.
Para alguns, alias, era o ponto alto do currículo.
“Formado na FGV com pós em Administração de Ativos Blomper e na lista do Janot desde 2015”
Ser citado na lista garantia, no mínimo, indicação para um cargo de fórum privilegiado.
Isso sem falar da exposição na mídia.
Era o fim do anonimato e dali o céu era o limite.
Alfredinho não era político profissional.
Era de carreira.
Estava no Palácio desde o Governo Collor.
Terceiro ou quarto escalão, sempre.
Era analista de planilhas de um subsecretário qualquer.
Nunca havia se envolvido em escândalo nenhum.
Morava num apartamentinho humilde com sua mulher.
– Vai Alfredo. Se esforça, porra! – exigia a mulher, manicure
do Senado.
Mas na sua função não tinha por onde.
Nem sequer seria capaz de levantar alguma suspeita.
Era só um analista.
Certo dia, no café, encontrou o Mendes.
Mendes tinha começado junto com o Alfredinho.
Mas Mendes deu a sorte de se envolver na compra
de umas ambulâncias.
Saiu numa das primeiras listas do Janot.
Sua carreira foi meteórica.
Com fórum privilegiado, foi direto para a Divisão de Compras de Ambulâncias e em três meses já era diretor.
Hoje era Ministro de Ambulâncias, cargo criado especialmente para ele.
Só vestia ternos bem cortados, morava numa casa com piscina e tudo.
– Alfredinho! Quanto tempo!
– Fala Mendes – cabisbaixo.
– O que houve, rapaz, tá desanimado?
– Ah Mendes…tô empacado aqui. Sem chance de uma promoçãozinha.
Mendes tentou consolar o amigo, mas no fundo entendia
a injustiça.
Um sujeito como Alfredinho, tantos anos de carreira e não tinha conquistado até hoje nem mesmo uma conta offshore.
Uma vergonha o País tratar assim seus funcionários mais dedicados.
Decidiu ajudá-lo.
De surpresa, na primeira oportunidade, incluiu o nome de Alfredinho na compra de umas ambulâncias para o Senado.
Trezentas.
Isso garantiria Alfredinho na próxima lista do Janot, afinal, estava acertado que só vinte ambulâncias seriam entregues.
Mendes deu a notícia pessoalmente para o Alfredo.
Naquela noite, ele e a mulher foram comemorar num restaurante chique.
A PF já o esperava na saída do restaurante.
A mulher foi junto pelas dúvidas.
Operação Parada Cardíaca.
De vez em quando acontecia.
Um ou outro iam em cana, para não levantar suspeitas.
Mendes ficou sabendo da prisão do amigo na manhã seguinte.
Olhou para sua secretária por diversos minutos, pensativo como a vida apronta essas surpresas para a gente.
Finalmente disparou:
– Bom…pelo menos eu tentei ajudar, né? Mas tem gente
que é azarada mesmo.
E foi almoçar com o Moreira.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias