As palavras “ALUGUEL CASA MÃE CLÉLIA” preenchem uma das colunas de planilha de supostos desvios na Assembleia Legislativa de São Paulo. O documento está de posse do Ministério Público Estadual, que investiga a deputada Clélia Gomes (PHS) por supostamente tomar parte dos vencimentos de seus funcionários de confiança.

Ao jornal O Estado de S. Paulo, dois ex-servidores e um servidor da Casa afirmaram que devolviam valores à deputada no quinto dia útil de cada mês. Eles afirmam que o dinheiro também era repassado ao ex-vereador Laércio Benko, que é presidente do PHS em São Paulo.

Segundo os depoimentos, Clélia também abriga funcionários fantasmas que, na verdade, trabalham em escritório pessoal de Benko.

Entre março de 2015 e novembro de 2017, os desvios somam R$ 1,6 milhão, de acordo com o depoimento de uma ex-funcionária ao Ministério Público.

Uma das colunas da planilha é somente destinada aos repasses do “pessoal do Benko”, segundo narram testemunhas. Outra mostra repasses a pessoas indicadas por Clélia. A deputada tomaria R$ 10 mil por mês para si, como contaram os ex-servidores.

“O aluguel [da residência da mãe da deputada] tinha na minha planilha, eu pagava. Fazia um depósito na conta do dono da casa”, afirma um ex-servidor que diz ter desempenhado o papel de arrecadador dos esquemas e não quis se identificar. Ele ainda diz que os funcionários fantasmas eram obrigados a devolver remuneração referente às férias correspondente ao acréscimo de um terço nos salários.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

“Eu recebia de todo mundo. Era bastante. Eu me fechava em uma sala dentro do gabinete nesses dias [de pagamento] para não ficar contando dinheiro na frente dos outros. Aí eu ia pela planilha separando: tanto para o Laércio, tanto para os funcionários da norte [gabinete da deputada na zona norte de São Paulo]. Eu separava em envelopes e cheguei a depositar valores para alguns dos funcionários”, relata.

Defesas

Com a palavra, Clélia Gomes

“A Deputada Estadual Clélia Gomes vem a público esclarecer que, no dia 01/03, última quinta-feira, recebeu um e-mail anônimo no qual continha ameaças e tentativa de extorsão por meio de inverdades relacionadas à conduta de seu mandato.

O caso segue na justiça e a cópia do boletim de ocorrência já foi disponibilizada e entregue à imprensa após a deputada ter sido procurada para esclarecer a denúncia infundada de ex-funcionários que, descontentes com o eventual desligamento do gabinete, tentam prejudicá-la em ano eleitoral.

Vale ressaltar que, a deputada não recebe ou recebeu devolução de salário e estará contribuindo com o Ministério Público durante toda investigação, inclusive, faz questão de que todos os fatos sejam devidamente apurados.

Sua conduta é transparente e a deputada não compactua com qualquer ação que seja imoral e contra os princípios éticos e trabalhistas.

Assessoria Deputada Estadual Clélia Gomes.”

Com a palavra, Laércio Benko

Na sexta-feira, o presidente estadual do PHS, Laércio Benko, também negou as acusações. Ele afirmou que Rosângela Cardoso, além de trabalhar com a deputada, é também tesoureira do PHS e foi localizada no escritório político da legenda no Morumbi.

Contudo, a reportagem ligou para o local e o atendente informou que lá funciona um escritório de advocacia ligado a Benko. No sábado, após ser novamente questionado sobre o escritório do Morumbi, Benko informou que o site do TSE tem espaço para informar apenas um endereço e, por isso, foi escolhido o da Avenida Rio Branco “porque lá é imóvel próprio do partido”.


Ele afirmou que o escritório do Morumbi é o de representação política dele sem ônus ao PHS. Com relação ao atendimento telefônico, Benko disse que os funcionários são orientados a atenderem sempre informando que falam do PHS. “Se houve uma falha de comunicação, será corrigida”.

O presidente estadual da sigla também negou “qualquer remuneração de salários de funcionários de parlamentares do PHS” e afirma que “nunca obrigou ninguém a trabalhar em seus escritórios”.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias