Atividades humanas insustentáveis em todo mundo tem degradado os ecossistemas da Terra, colocando em risco as fundações ecológicas da sociedade. Ações urgentes, e em uma escala sem precedentes, são necessárias para reverter a situação, ou a saúde humana e ambiental estarão comprometidas.

Esse é o alerta que será dado nesta quarta-feira, 13, pela ONU Meio Ambiente, no lançamento do 6º Panorama Ambiental Global (GEO6). O relatório, produzido a cada cinco anos, traz a mais abrangente avaliação sobre o estado do meio ambiente em todo o mundo.

Elaborado por 250 cientistas de mais de 70 países, o documento que recebeu o título “Planeta saudável, pessoas saudáveis”, avalia aspectos como poluição do ar e dos oceanos, perda de biodiversidade, desmatamento e uso do solo, oferta de água potável, mudanças climáticas e uso dos recursos naturais.

A conclusão é de que o cenário geral é de piora desde o que o primeiro relatório foi lançado, em 1997, apesar de esforços dos países e alguns avanços pontuais. A situação ambiental em todo mundo é de contínua deterioração – resultado de padrões insustentáveis de produção e consumo, agravados pelas mudanças climáticas.

No caso da poluição do água potável, por exemplo, a publicação alerta para o risco da presença cada vez maior de bactérias resistentes a antibióticos em fontes de água tratada, já observadas em todo o mundo. Os autores alertam que infecções por essas bactérias podem se tornar a segunda maior causa de morte até 2050.

Provenientes de antibióticos, essas bactérias entram no ciclo da água através de esgoto doméstico e do descarte de efluentes industriais, da agricultura, e da criação intensiva de gado e aquicultura. O relatório aponta ainda que vários produtos químicos disruptores endócrinos são hoje distribuídos através do sistema de água doce em todos os continentes, podendo ter um impacto a longo prazo sobre o subdesenvolvimento fetal e infertilidade masculina.

Outra causa de um grande número de mortes pode ser a poluição do ar, hoje já responsável por milhões de mortes prematuras em todo o mundo. Os pesquisadores estimam que se a situação continuar progredindo como está hoje, entre 4,5 milhões e 7 milhões de mortes prematuras podem ocorrer até a metade do século.

“A ciência é clara. A saúde e a prosperidade da humanidade estão diretamente ligadas ao estado do nosso meio ambiente”, afirmou Joyce Msuya, diretora executiva interina da ONU Meio Ambiente, em comunicado à imprensa.

“Esse relatório é um panorama para a humanidade. Estamos numa encruzilhada. Vamos continuar no nosso caminho atual, que levará a um futuro sombrio para a humanidade, ou vamos dar uma guinada para um caminho de desenvolvimento mais sustentável? Essa é a escolha que nossos líderes políticos têm que fazer, agora”, complementou.

Soluções

O documento também traz recomendações do que precisa ser feito para reverter esse cenário e lembra que muitas das ações tem resultados integrados – melhorar a poluição do ar também tem impactos positivos sobre o clima, por exemplo.

Os autores citam cálculos de que ações de mitigação das emissões de gases de efeito estufa tomadas para cumprir as metas do Acordo de Paris custariam cerca de US$ 22 trilhões, mas os benefícios obtidos com a respectiva redução da poluição do ar trariam uma economia de US$ 54 trilhões de dólares.

Os autores recomendam que o modelo atual do “cresça agora, limpe a bagunça depois” seja substituído por uma economia de “lixo-quase-zero” até 2050. Para isso, sugerem investimentos em uma economia mais verde, que poderia ser alcançada com cerca de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) dos países.

De acordo com o documento, com essa troca seria possível ter um crescimento no longo prazo tão alto quanto o previsto atualmente, sem piorar as mudanças climáticas, a escassez de água e a perda de ecossistemas.

Para o climatologista brasileiro Carlos Nobre, que atuou no painel consultivo científico que auxiliou a equipe que elaborou o relatório, o documento “é a mais completa e de maior qualidade avaliação sobre o estado do ambiente global e clama por uma disruptiva mudanças no terreno das inovações, não somente tecnológicas, mas em todos os aspectos da construção humana”.

O pesquisador ressalta, porém, que não estão considerados os entraves políticos atuais. “Por ser um documento que foi aprovado por governos, não trata profundamente dos riscos que enfrentamos nos dias de hoje pelo crescimento de movimentos populistas, autocráticos, até mesmo religiosos e anticiência.”