Na noite de sábado, 15, São Paulo recebeu seu último show da história do Planet Hemp. Cheia de vigor, a banda liderada por Marcelo D2 e BNegão elevou a energia de um Allianz Parque lotado com uma setlist de quase 40 músicas pela turnê “A Última Ponta”, entre clássicos dos anfitriões e sucessos de convidados. Subiram ao palco artistas como Seu Jorge, Emicida, Pitty, Black Alien e João Gordo.
Prestes a realizar o último show da carreira — a banda encerra as atividades em 13 de dezembro na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro — o grupo também composto por Formigão (baixo), Nobru (guitarra), Pedro Garcia (bateria) e Daniel Ganjaman (guitarra e teclados) manteve a energia no alto durante toda a apresentação, com o equilíbrio certo entre a gratidão pelos 32 anos de história e a desobediência civil que sempre permeou a história do Planet Hemp.
Para além dos clássicos já esperados pelo público, o show entregou uma performance visual imersiva — com destaque para o telão central, em formato de livro, que ajudou a contar a história da banda em capítulos. Momentos importantes para a história da cannabis no país e no mundo também não ficaram de fora da apresentação dos autointitulados “maconheiros mais famosos do Brasil”. Ao longo do espetáculo, a banda homenageou personalidades como Chico Science, Marcelo Yuka, Chorão e Luís Antônio da Silva Machado, o Skunk, que fundou o Planet Hemp com D2 e morreu em 1994, vítima de complicações decorrentes da AIDS.
O show de abertura ficou sob responsabilidade do BaianaSystem, que chegou ao Allianz direto de um voo de volta dos Estados Unidos, onde faturou o Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock ou de Música Alternativa em Língua Portuguesa por “O Mundo Dá Voltas” na quinta-feira, 13. O grupo aqueceu um estádio já cheio com sucessos como “Lucro (Descomprimido)” e “Balacobaco”.

Da esquerda para a direita: BNegão, Emicida, Marcelo D2 e Seu Jorge no show do Planet Hemp em São Paulo, em 15 de novembro de 2025
Planet Hemp faz show recheado de nostalgia e participações especiais em São Paulo
Fundada em 1993 no Catete, no Rio de Janeiro, a banda — cujo nome é traduzido para “planeta maconha” — começou o show com uma sequência certeira que aqueceu o público: “Dig Dig Dig (Hempa)”, “Ex-quadrilha da fumaça/Fazendo a cabeça”, “Raprockandrollpsicodeliahardcoregga” e “Distopia”, com participação do cantor Criolo na versão original.
Temas como legalização e plantio de cannabis, movimentos de contracultura e repressão policial continuaram sendo discorridos por meio de sucessos dos quatro álbuns de estúdio do grupo até a entrada de Emicida e Seu Jorge. O primeiro, apresentando seus hits “Nunca tenha medo” e “AmarElo”. Já Seu Jorge, ex-integrante do Planet Hemp, encantou a plateia com sua flauta e timbre penetrante nas músicas “Biruta” e um medley de “Cadê o isqueiro?”, “Quem tem seda?” e “Pilotando o bonde da excursão”.
A segunda metade do espetáculo foi marcada pela abertura de incontáveis rodas de bate-cabeça e uma pista tomada pela fumaça do palco e dos sinalizadores acendidos pela plateia. Após uma sequência enérgica de “Não vamos desistir”, “Stab” e “Procedência C.D.”, a cantora Pitty subiu ao palco para performar seus sucessos “Admirável chip novo” e “Teto de vidro”.
O ápice do encerramento ficou por conta da participação surpresa de Black Alien, que fez parte do Planet Hemp entre 1996 e 2001. Para um público surpreso e emocionado, o rapper cantou “Contexto”, “Queimando tudo” — tocada pela segunda vez na noite —, “Deisdazseis” e “Mantenha o respeito”. O último convidado foi João Gordo, para um cover de “Crise geral”, dos Ratos de Porão, e participação em “Mantenha o respeito”.

Gustavo Black Alien e Marcelo D2 no show do Planet Hemp em São Paulo, em 15 de novembro de 2025
Clima de despedida
Nem mesmo a natureza revoltosa do Planet Hemp, com suas letras combativas e faixas carregadas de influências hardcore, foram capazes de ofuscar o caráter emocional da noite. D2 não mentiu quando subiu ao palco ainda pela tarde, antes do show de abertura, para apresentar o BaianaSystem e informar aos presentes que “choraria muito” naquela noite.
O fundador da banda não deixou de agradecer a toda a plateia inúmeras vezes, bem como seus companheiros de turnê. Em seu último capítulo em São Paulo, o Planet Hemp entregou uma performance colossal que, apesar de ser digna de bis, se repetirá apenas na memória de quem teve a sorte de presenciar tamanho espetáculo.