PL usou dinheiro público com empresas de dirigentes e seus familiares, diz jornal

PL usou dinheiro público com empresas de dirigentes e seus familiares, diz jornal

O Partido Liberal, ao qual o presidente Jair Bolsonaro filiou-se em novembro de 2021 para concorrer à reeleição, usou parte do dinheiro público no ano passado com empresas de dirigentes da legenda e seus familiares. Um levantamento realizado pelo jornal O Globo, que teve como base as prestações de contas entregues pelo PL à Justiça Eleitoral, apontou que a sigla gastou recursos com, por exemplo, aluguel de imóvel que pertence a um deputado, consultoria de um integrante, comprou um carro que desapareceu e contratou um curso virtual que está fora do ar.

Presidido pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto, o PL declarou em 2021 que recebeu R$ 53 milhões, mas gastou R$ 19 milhões. O restante do valor, segundo a sigla, ficou no caixa do partido.

Por outro lado, ao analisar as prestações de contas, O Globo apurou que o diretório do Piauí foi o que mais obteve dinheiro ao receber R$ 1,6 milhão. Parte desse valor foi destinado para contratar serviços prestados por empresas de familiares do então presidente do partido no estado, o deputado estadual Fábio Xavier.

Do montante destinado ao Piauí, cerca de R$ 43, 5 mil foi usado para “materiais impressos” fornecidos por uma microempresa que pertence à mulher de Xavier. O PL também desembolsou R$ 55 mil em aluguel imobiliário para uma cunhada do dirigente da sigla. Ainda usou R$ 72 mil em um serviço de fretes e carretos prestados pela empresa da sogra de Fábio.

Todos esses valores constam nos relatórios do partido entregues ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Porém as suas notas fiscais não foram anexadas ao processo.

Ao ser questionado pelo Globo sobre o caso, Fábio Xavier afirmou que consultou o departamento jurídico do PL antes de contratar os serviços. Também ressaltou que a área avaliou todos os negócios que envolviam os integrantes de sua família e suas respectivas empresas.

Carro desaparecido

No início deste ano, Fábio Xavier deixou o PL para se filiar ao Partido dos Trabalhadores (PT). Então Samantha Cavalca, apoiadora de Bolsonaro, assumiu o cargo de mandatário do diretório da sigla no Piauí.

Ela relatou ao Globo que o seu antecessor comprou um carro no valor de R$ 179 mil. Porém Samantha não sabe do paradeiro do automóvel nem da sua marca.

“Se ficar comprovado que Fábio Xavier comprou um carro com o dinheiro do fundo partidário, o PL do Piauí vai querer esse carro. Não nos foi passado nada, muito menos um carro”, relatou.

Ao jornal, Xavier informou que o veículo é utilizado pelo diretório municipal de Regeneração (PI). Ele também frisou que nunca foi procurado por Samantha para tirar qualquer dúvida sobre o assunto.

Consultoria

As prestações de contas do PL mostram que o partido gastou R$ 168,9 mil com a contratação da M2G Consultoria e Assessoria. O ponto que chamou a atenção é que um dos sócios da empresa é Garigham Amarante, diretor do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

Nos documentos entregues para a Justiça eleitoral, a M2G Consultoria e Assessoria informou as reuniões de seus executivos. Uma delas, inclusive, foi com o ex-deputado Henrique Oliveira. Vale ressaltar que no mesmo dia constava um encontro de Garigham com o mesmo ex-parlamentar.

Procurado, Henrique informou que conhecia Garigham desde que ele era assessor na Câmara dos Deputados. Segundo ele, o encontro foi para parabenizá-lo pelo cargo no FNDE. Contudo, ao ser questionado, o ex-deputado afirmou que não tinha conhecimento da M2G.

Ao Globo, Garigham relatou que não atua como sócio-administrador da M2G e “não presta, pessoalmente, tal serviço a nenhum partido político”. “(A empresa) presta serviços de natureza técnica, com base em informações de fontes abertas e, portanto, não há incompatibilidade entre a atividade de servidor público e a condição de sócio-cotista da M2G”, acrescentou.

Curso virtual

Conforme contas enviadas ao TSE, o PL teve a sua maior despesa com um curso virtual por meio do PL Mulher, o braço da sigla que deve promover a participação feminina na política.

O sistema de ensino à distância foi oferecido por duas empresas que possuem o mesmo sócio, Henrique de Lima Vieira, que é próximo do deputado federal Zé Vitor (PL-MG). Para isso, o partido desembolsou R$ 606 mil. Contudo, o site que contém os cursos está fora do ar.

Procurado pelo Globo, Henrique afirmou que jamais cometeu nenhuma irregularidade. Segundo ele, os conteúdos ligados ao PL Mulher saíram do ar por causa do fim do contrato firmado com o partido.

“A gente tinha plataforma para cada estado, e as interessadas tinham que cumprir o mínimo de aulas. Foram mais de três mil inscrições e 997 pessoas terminaram o curso”, disse.

O jornal tentou contato com o parlamentar Zé Vitor, mas não obteve resposta.

Ao ser questionado, o Partido Liberal não comentou os gastos nos diretórios estaduais e no PL Mulher.