Grande sucesso no Brasil, o Pix virou protagonista das manchetes norte-americanas desde a última terça-feira, 15. Isso porque o presidente Donald Trump inaugurou mais uma investida contra o País, dessa vez com a abertura de uma investigação comercial que mira práticas descritas como “desleais”.
Apesar do sistema de transferência não ser mencionado nominalmente no documento, o texto cita “diversas práticas injustas” brasileiras que buscam garantir vantagens ao “sistema de pagamentos eletrônico desenvolvido pelo governo”.
O movimento desencadeou uma série de reações por parte do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que voltou a defender a soberania nacional. As respostas, porém, não se limitaram a gestão atual – o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) também utilizou a oportunidade para se reafirmar como criador do Pix e colocar-se à disposição para negociar com Trump.
“O Pix tem nome: Jair Bolsonaro”, afirmou.
No entanto, conforme já apurado pela IstoÉ, o Pix não foi criado pelo governo Bolsonaro.
Afirmação de Bolsonaro é falsa
Embora o lançamento tenha ocorrido em 5 de outubro de 2020, no segundo ano de mandato do ex-presidente, o método de pagamento era projetado por servidores do Banco Central desde 2016, na condição de uma autarquia autônoma. Na época, Michel Temer (MDB) era o presidente.
Ainda em 2016, Ilan Goldfajn, então presidente do BC, disse a jornalistas que a equipe monitorava as inovações internacionais em métodos de pagamento instantâneos. No mesmo ano, economistas do órgão publicaram um relatório sobre a adoção de ferramentas do tipo em outros países.
Em 3 de maio de 2018, o BC publicou uma portaria para instituir um grupo de trabalho para desenvolver uma ferramenta interbancária de pagamento instantâneo.
Em dezembro de 2018, um comunicado da autarquia estabeleceu as diretrizes de como funcionaria o desenvolvimento da ferramenta. “A diretoria colegiada do Banco Central do Brasil aprovou os requisitos fundamentais para o ecossistema de pagamentos instantâneos”, disse.
Em maio de 2022, na pré-campanha pela reeleição, Bolsonaro afirmou se responsável pela criação do Pix e foi corrigido pelo Sinal (Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central), que dissociou a ferramenta de qualquer governo.
“Tal sistema de pagamento instantâneo foi criado e implementado pelos Analistas e Técnicos do Banco Central do Brasil – ou seja, por servidores concursados de Estado, não pelo atual governante ou por qualquer outro governo”, afirmou a entidade.
“Além disso, em discurso público realizado em novembro de 2020, o presidente Jair Bolsonaro declarou que Pix era algo ligado à aviação civil, mostrando completo desconhecimento do assunto”, acrescentou o comunicado.