Em primeiro lugar, não confundam ter votado (argh, eu votei!) em Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, ou continuar votando (por considerar o meliante de São Bernardo algo pior e mais nocivo ao País), com bolsonarismo.

Eu conheço uma porção de gente que votou e votará no patriarca do clã das rachadinhas e não se identifica com o bolsonarismo. Assim como, não são todos os preconceituosos, homofóbicos, machistas etc. eleitores do Bozo.

Bolsonarismo é uma categoria de pensamento e de comportamento bem clara e definida: não suporta homossexuais, não tolera pensamento político diferente, acredita e prega a violência como resolução de conflitos…

O bolsonarismo, também, é um antro do pensamento politicamente incorreto. Se a civilização e urbanidade tendem a corrigir falas e costumes antes aceitos, mas danosos a grupos de pessoas, o bolsonarismo pratica – com gosto! – o contrário.

Por exemplo: piadas homofóbicas. O amigão do Queiroz e sua trupe recusam-se a deixar de fazê-las. E ainda reclamam: ‘ah, o mundo está muito chato! Não se pode falar mais nada’. Bem, o respeito ao próximo é que dita as regras. Ou deveria.

Por evidente que há uma questão, digamos, geracional aí. Eu mesmo, apesar de me policiar ao máximo, sou repreendido severamente por minha filhotinha, de 16 anos, quando ultrapasso a linha do respeito atual. E a agradeço por isso.

Quando digo minhas besteiras, por ter aprendido (erroneamente) a dizê-las, sem medir as consequências, apenas provo – e comprovo – que minha criação foi desatenta e relapsa ao sofrimento alheio. Não é legal zoar o que não é ‘zoável’.

Nelson Piquet, um gênio nas pistas, sempre se mostrou uma ‘besta fera’ fora delas. Passou a vida fazendo questão de não medir suas palavras ácidas. E, já há alguns anos, pulou da vida esportiva e empresarial para o proselitismo político.

Em uma entrevista concedida no ano passado, que voltou a circular, o tricampeão mundial de Fórmula 1 se referiu, por duas ou três vezes, a Lewis Hamilton, um atual supercampeão da categoria, como ‘o neguinho‘. Atenção: não confundir com ‘apenas’ neguinho.

Uma coisa – e que deve ser evitada, sim, para não causar confusão – é dizer: ‘neguinho sai por aí, comendo e bebendo feito louco, e não quer engordar’. O ‘neguinho’, no caso, não se refere à cor de ninguém, é apenas uma gíria antiga.

O vocalista Marcelo D2, na música ‘Qual É?’, canta assim: ‘Essa onda que tu tira qual é? Essa marra que tu tem qual é? E tira onda com ninguém qual é? Qual é, neguinho, qual é?’. Eis mais um exemplo de ‘neguinho’ sem qualquer cunho pejorativo.

Contudo, Piquet, ao usar o artigo masculino definido ‘O’ – por mais de uma vez!! -, ainda que de forma não racista (mas pejorativa, sem dúvida), demonstra a falta de cuidado, de olhar atento ao próximo, tão comum aos ‘ogros’ modernos.

Não sei se Nelson Piquet é racista ou não. Nunca conversei com ele na vida. Mas sei que é adepto da falta de cuidado com o sentimento alheio. É do tipo que enxerga a vida atual como ‘um saco’, por causa do politicamente correto.

Eu pergunto: custa não adjetivar Hamilton como ‘o neguinho’? Pô, Piquet é culto, letrado e capaz de usar ‘inglês, garoto, moleque’ ou sei lá mais o quê. Da mesma forma que não custa não fazer piada com homossexuais, deficientes físicos, etc.

Há condições natas, ou adquiridas durante a vida, que não dependem de vontade ou escolha. No mundo em que vivemos, brancos, saudáveis, magros, altos, educados, héteros e ricos são, sim, privilegiados aos olhos de todos.

E o contrário, infelizmente, representa ser discriminado, ridicularizado, adjetivado pejorativamente. Isso tem de mudar, e graças ao ‘politicamente correto’ está mudando, ainda que muito lentamente e de forma, às vezes, exagerada.

Sim, há muito exagero e lacração, que acabam trazendo ira. Dizer que Piquet é racista é um exemplo. Como o que foi feito recentemente como o bobão do tal Monark, do Flow. Há que se cobrar atenção, é claro, mas de forma justa e proporcional.

‘Ah, Ricardo, ao ligar Piquet a Bolsonaro você faz o mesmo’. Nananinanão!! Em primeiro lugar, não estou ligando o piloto ao presidente. Estou incluindo Piquet no bolsonarismo – e já expliquei acima do que se trata. E ele (Piquet) é bolsonarista, sim, ué.

E como afirmei, se há bolsonarismo, há preconceito, homofobia, racismo, politicamente incorreto e tudo mais. Ou não há? Ou desejar um filho morto a um filho gay é o correto? Que tal comparar negros com animais de corte? Ou lamentar a existência de índios?

O bolsonarismo é uma praga, um comportamento selvagem que deveria ser vigiado de perto e repreendido com o máximo rigor social e legal. A sociedade deveria repreender veemente as falas e ideias dessa gente das cavernas.

Por quê? Bem, porque, ao longo da história, muitos líderes e sociedades decidiram não tolerar pessoas de que não gostavam ou não aceitavam costumes, valores, religião, etc. Creio que todos aqui já ouviram falar em fascismo, comunismo e nazismo, né?

Estou exagerando? Não creio. Antes de se tornarem escravos, um dia, alguém olhou para um preto e decidiu ser este… um escravo! Alguém, um dia, decidiu que não poderia haver judeus no mundo. E que, como no Irã, homossexuais devem ser enforcados.

Gente que pensa de maneira restritiva, socialmente falando, que não admite pluralidade e não preza pela inclusão, não pode, em nome da democracia e da liberdade de expressão, falar o que quiser e agir como quiser, justamente por, aí sim, ferir de morte os princípios democráticos e de liberdade individual.