Pipoqueiro e sorveteiro: quem são os condenados pelo 8/1 citados por Bolsonaro

Bolsonaro
Jair Bolsonaro em manifestação na Avenida Paulista Foto: REUTERS/Jorge Silva

Durante ato em defesa da anistia para os condenados do 8 de Janeiro, neste domingo, 6, em São Paulo, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) usou a condenação de vendedores de pipoca e sorvete para criticar a condução dos processos contra acusados dos ataques às sedes dos Três Poderes em 2023.

+ Bolsonaro usa ato para atacar Moraes e Lula e mandar recado ao Congresso

+ Deputados apontam insatisfação após serem alocados separados de Bolsonaro

Em cima de trio elétrico na avenida Paulista, Bolsonaro afirmou: “Olhe só o que está acontecendo no Supremo no dia de hoje. Eles já têm maioria para condenar um pipoqueiro e um sorveteiro por golpe de Estado. É inacreditável o que acontece”, disse.

Depois, citou o caso em inglês, trecho do discurso que repercutiu em vídeo nas redes sociais: “Popcorn and ice cream sellers sentenced for coup d’état in Brazil” (“pipoqueiros e sorveteiros são condenados por golpe de Estado no Brasil”, em português).

Bolsonaro se referia a Carlos Antônio Eifler, o pipoqueiro, e a Otoniel Francisco da Cruz, o sorveteiro. Eles foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na última sexta-feira, 4, por associação criminosa e incitação ao crime, com pena de um ano de prisão e pagamento de multa.

Em seu voto, o ministro Alexandre de Moraes, relator dos casos, substituiu a pena restritiva de liberdade por pena restritiva de direitos. Os dois deverão prestar serviços à comunidade e participar de curso sobre “Democracia, Estado de Direito e Golpe de Estado”, e estão proibidos de utilizar redes sociais ou deixar a comarca em que residem.

A maioria dos ministros da Corte acompanhou o relator nos votos, com exceção de Kassio Nunes Marques e André Mendonça, que pediram a absolvição da dupla. Ambos os magistrados foram indicados à Corte por Bolsonaro.

De acordo com o voto de Moraes, os casos se encaixam no contexto dos crimes multitudinários, em que uma ação conjunta é perpetrada por inúmeros agentes, todos contribuindo para o resultado.

O ministro também ressaltou que o acampamento golpista em frente ao Quartel-General do Exército “encontrava-se extremamente organizado e com tarefas bem definidas”, sendo o credenciamento e a permanência dos dois no local suficientes para verificar “o intuito comum à atuação da horda golpista”.

Até março deste ano, a Corte já condenou 434 envolvidos nos ataques golpistas.

Quem é o pipoqueiro?

O empresário Carlos Antônio Eifler, de 54 anos, é de Lajeado (RS) e tem um pequeno negócio de pipocas registrado em seu nome desde 2020. Em depoimento, ele afirmou que chegou à capital federal em 8 de janeiro de 2023, por volta das 14h30, e foi direto ao acampamento com sua barraca, onde passou a noite. “Após terminar a parte da montagem das barracas, já era na parte da noite. Deste momento até a noite, nós não saímos do QG”, disse.

Carlos Eifler também afirmou que tinha dois intuitos, conhecer Brasília e “fazer um abraço simbólico em volta das Esplanadas”. Declarou não ter quebrado nada nem invadido qualquer prédio público.

Nas redes sociais, o pipoqueiro acumula postagens em que se diz revoltado com o resultado das urnas em 2022, além de apoiar explicitamente os acampamentos golpistas e pedir uma intervenção militar comandada por Bolsonaro.

Quem é o sorveteiro?

O outro citado por Bolsonaro é Otoniel Francisco da Cruz, de 45 anos, natural de Porto Seguro (BA). Em audiência, ele disse trabalhar vendendo picolés na praia. Declarou ter deixado Porto Seguro em um ônibus fretado, em que viajou sem pagar passagem.

Ele chegou em Brasília na noite do dia 8, quando os ataques já haviam ocorrido, e pernoitou no acampamento, onde, contou, teve acesso a comida e bebida de forma gratuita. Disse ter permanecido no QG até o dia 9, quando foi preso pela Polícia Federal (PF).

O sorveteiro afirmou que um dos objetivos da viagem era manifestar “pacificamente contra o mal”. “Não sou contra o governo, sou contra algumas pautas do governo, que é aborto e drogas (sic)”, disse durante depoimento.