O rosto mais antigo conhecido no oeste da Europa é agora o de um fóssil de pelo menos 1,1 milhão de anos de idade, apelidado de “Pink”, descoberto em uma gruta espanhola e apresentado nesta quarta-feira (12) na revista Nature.
Este estudo “introduz um novo ator na história da evolução humana na Europa”, disse sua autora principal, Rosa Huguet, da Universidade espanhola de Tarragona, em uma conferência de imprensa.
Até agora, o representante mais antigo da espécie humana no oeste da Europa, datado entre 800 mil e 900 mil anos, era o Homo antecessor, descoberto na serra espanhola de Atapuerca.
Este sítio, localizado ao norte da Espanha, abriga pelo menos dez locais arqueológicos excepcionais.
Foi a menos de 250 metros do Homo antecessor que uma equipe espanhola descobriu o ATE7-1.
Mais especificamente, a parte esquerda do maxilar superior e o osso zigomático de um indivíduo adulto, junto com os restos da raiz de um molar.
Um tesouro, considerando que até agora só se tinha, no caso dos primeiros humanos que chegaram ao oeste da Europa, um único molar de leite de um indivíduo, e uma falange e um fragmento de mandíbula inferior de outro.
ATE7-1, com o apelido “Pink” (rosa) dado pelos seus descobridores, estava em uma camada geológica profunda do sítio conhecido como Sima del Elefante.
Foi resgatado a mais de dezesseis metros de profundidade, dentro de uma massa de limos e lodos vermelhos, o que permite datá-lo entre 1,1 e 1,4 milhão de anos.
Antes de sua descoberta, era necessário se deslocar para o leste da Europa, na atual Geórgia, e remontar a 1,8 milhão de anos, para encontrar o Homo georgicus, o Homem de Dmanisi.
Esse é o primeiro representante europeu do gênero Homo fora da África, considerada o berço da humanidade, muito antes do aparecimento do Homo sapiens, o homem moderno, há aproximadamente 300 mil anos.
Uma reconstrução facial utilizando ferramentas de imagem 3D revela o notável rosto de “Pink”.
Enquanto o Homo antecessor tem “um rosto muito moderno, semelhante ao da nossa espécie Homo sapiens, que é vertical e plano”, o de ATE7-1 é “mais projetado para frente, e mais robusto”, explicou María Martinón-Torres, diretora do Centro Nacional Espanhol de Evolução Humana.
No entanto, não compartilha todas as características de outra linha famosa e mais antiga originada no continente africano, o Homo erectus.
Daí a decisão de seus descobridores de nomeá-lo Homo “affinis” erectus (“affinis”, que sugere características comuns com o erectus), explicou María Martinón-Torres.
Em caso de dúvida, é “a proposta mais honesta que podemos fazer”, disse ela.
É impossível nesta etapa determinar o sexo, e muito menos a idade de “Pink”.
Por outro lado, com três pequenas ferramentas de pedra, ossos de animais visivelmente marcados com estrias, e numerosos indícios paleobotânicos, a equipe tem uma boa ideia do ambiente em que ele vivia.
Um cenário de floresta úmida, com vegetação do tipo mediterrâneo, rica em aves, roedores e macacos, cavalos e bovídeos, e até alguns bisontes e hipopótamos, que evoluía em um clima mais temperado que o atual.
Atapuerca “provavelmente era um corredor natural de fauna com recursos hídricos, um local ideal para o estabelecimento de hominídeos”, segundo Rosa Huguet.
A descoberta de “Pink” reforça, segundo a equipe espanhola, a hipótese de um povoamento do continente europeu de leste para oeste pelos primeiros hominídeos há pelo menos 1,4 milhão de anos.
Tudo indica que eles vinham “de algum lugar situado no leste da Europa”, segundo María Martinón-Torres.
E agora ocupam “um lugar na história da evolução humana” entre o Homem de Dmanisi e o Homo antecessor.
A questão é se a linha à qual “Pink” pertencia sobreviveu ao “efeito de gargalo de garrafa” demográfico, que teria feito as populações cair há aproximadamente 900 mil anos, impulsionado por severos episódios glaciais.
O paleoantropólogo espanhol José Maria Bermúdez de Castro considera “pessoalmente” improvável que esta linha tenha sobrevivido para coexistir depois com a do Homo antecessor: “Acredito que o Homo affinis erectus desapareceu”.
São várias as hipóteses que alimentarão as investigações futuras. A equipe ainda não chegou ao fundo do sítio arqueológico em Atapuerca.
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