Ainda não se sabe se uma máquina algum dia terá a capacidade e o talento para pintar um quadro como “Ronda Noturna” (“Night Watch”), de Rembrandt. Graças à tecnologia, no entanto, a obra foi restaurada e agora será exibida como o mestre holandês a havia concebido originalmente, em 1642.

O projeto faz parte da “Operação Night Watch”, iniciada há dois anos pelo Rijksmuseum, de Amsterdã. Por meio da inteligência artificial, as partes laterais que haviam sido cortadas à tesoura no século 18 foram recuperadas. Exposto inicialmente na sede da guarda civil liderada pelo capitão Frans Banninck Cocq, que fez a encomenda ao pintor, a pintura foi transferida mais tarde para a prefeitura da capital holandesa — mas não cabia na parede. Segundo Taco Dibbits, diretor do Rijksmuseum, foi feito um estudo meticuloso para abastecer o software com informações sobre as cores, tintas e o estilo das pinceladas. O quadro foi fotografado em detalhes e as 528 imagens geradas foram usadas para “ensinar” o computador a pintar como Rembrandt.

NOVA VISÃO “Ronda Noturna”: recuperação das laterais revelaram outros personagens – restauração foi possível graças a uma reprodução feita na época por um amador (Crédito:Ilvy Njiokiktjien/The New York Times)

Alvo de ataques

Não é possível determinar um valor para “Ronda Noturna”. Considerada a obra-prima de Rembrandt, suas dimensões magníficas — 4m de largura por 4,5m de cumprimento, antes da restauração — o tornam a obra mais valiosa do mestre rebelde da Idade de Ouro. Como comparação, um pequeno auto-retrato do holandês foi leiloado em 2020 por US$ 18,7 milhões.

Essa não é a primeira vez que “Ronda Noturna” tem de ser recuperada. Em 1911, um homem entrou no museu armado com uma faca e atacou a pintura — episódio semelhante se repetiu em 1975. Em 1990, ele foi hostilizado por um homem com um spray. Graças à tecnologia, a obra volta agora à versão imaginada pelo autor — muito antes de ser atacada por facas e tesouras.