Não há espaço no primeiro andar da Pinacoteca do Estado, onde será inaugurada neste sábado, 25, a exposição Fora da Ordem – Obras da Coleção Helga de Alvear, em que o visitante não encontre trabalhos de grandes nomes da arte internacional.

No octógono do museu, quatro esculturas de ferro e espelho de José Pedro Croft recebem os visitantes, mas, ao lado desse conjunto, é uma surpresa encontrar, quase que escondidas, nove gravuras que Duchamp criou como estudo de seu histórico O Grande Vidro. E isso é apenas o início – a mostra, recorte do acervo de uma das principais galeristas da Espanha, ainda apresenta criações de muitos outros consagrados, entre eles, Dan Flavin, Donald Judd, Josef Albers, Cindy Sherman, Gordon Matta-Clark, Thomas Ruff, Ed Ruscha, Ad Reinhardt, Gabriel Orozco e Jeff Wall.

Há três anos, quando os curadores Ivo Mesquita e José Augusto Ribeiro começaram a se debruçar sobre as mais de 2,5 mil peças colecionadas por Helga de Alvear para conceber uma exposição para a Pinacoteca, eles identificaram duas vertentes no acervo da marchande, alemã radicada em Madri desde 1957. “O Ivo tinha notado a presença de muitos trabalhos fantasiosos, de alta carga imaginativa, com humor, mas também vi que há muitas obras de linguagem geométrica, sóbrias, de formalização econômica, mais ligadas, digamos, ao vocabulário do minimalismo”, conta Ribeiro. O conceito de Fora da Ordem nasceu, explicam, da “fricção” entre as duas linhas de criações.

Helga de Alvear, discípula da galerista espanhola Juana Mordó, é considerada uma das mais importantes impulsionadoras do circuito de arte espanhol desde a década de 1980. Sua galeria fica em Madri, mas em 2006, ela criou a Fundação Helga de Alvear na cidade de Cáceres com o intuito de tornar público o seu numeroso – e crescente – acervo, iniciado em 1967 e formado, predominantemente, como diz Ivo Mesquita, por obras de artistas alemães, espanhóis e norte-americanos.

“A coleção descreve um trajeto, constituiu uma narrativa da arte a partir do final dos anos 1950 e início dos anos 60”, afirma o curador. Como destaca Mesquita, o minimalismo é uma chave central no conjunto colecionado pela galerista – mesmo pelo fim do movimento e sua transformação “pelas mais diversas estratégias e críticas dentro do processo de globalização, como a descoberta das periferias”. O modernismo, representado pela aquarela de 1933 de Kandinsky, é, na verdade, inclusão posterior e “pontual” no acervo.

Sendo assim, as esculturas geométricas de Croft, datadas de 2003, foram escolhidas para o octógono da Pinacoteca justamente por condensar questões importantes presentes na coleção de Helga de Alvear e na exposição. Pelo uso do espelho, a obra “acaba decompondo o espaço e a arquitetura do museu”, identifica José Augusto Ribeiro. “Os enfrentamentos, desconstruções, críticas ao minimalismo foram pondo as coisas fora de ordem e foram aparecendo outras ordens e esse é o intuito do título”, explica Ivo Mesquita. Mais ainda, as peças criam “jogo de ilusão e realidade”, o que também é uma tônica desdobrada na exposição.

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A mostra vai promovendo, portanto, um diálogo – “sedutor” – entre peças de gêneros – pintura, objeto, fotografia, escultura, etc – e épocas distintas. “Buscamos armar vários tipos de relações, pela fisicalidade de material, cor, forma”, diz Ribeiro. Além de trazer obras de criadores consagrados, a mostra revela artistas desconhecidos e destaca apenas três brasileiros na Coleção Helga de Alvear – Iran do Espírito Santo, José Damasceno e Jac Leirner. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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