Uma única pílula diária que combine medicamentos contra a hipertensão e o colesterol, assim como a aspirina, poderia reduzir em um terço o risco de sofre um acidente cardiovascular em cinco anos, afirma um estudo publicado nesta sexta-feira.

A ideia do tratamento, chamado de “polypill” ou superpílula, cuja composição pode variar, foi apresentada há quase 20 anos. Mas o novo estudo, publicado na revista médica The Lancet, é o primeiro em grande escala para avaliar sua eficácia durante tal período.

O teste comparativo envolveu uma população rural turcomana do Irã, com idade entre 50 e 75 anos. Um total de 90% dos 7.000 participantes não tinham antecedentes de doenças cardiovasculares e quase metade eram mulheres.

Um grupo recebeu apenas conselhos sobre higiene de vida (atividade física, parar de fumar, etc), enquanto os demais participantes também tomaram a multi-pílula. No conjunto, o risco de sofrer um acidente cardiovascular importante (infarto, AVC, entre outros) caiu 34% no segundo grupo em comparação com o primeiro.

Comparado com pessoas que tomam outros remédios cardiovasculares, o efeito protetor global cai a 22%, mas continua sendo significativo, destaca a Lancet.

O tratamento continha doses reduzidas de dois medicamentos contra a hipertensão e uma dose moderada de um anticolesterol, assim como aspirina, informou Gholamreza Roshandel, da Universidade de Medicina da província iraniana de Golestan.

“Mais de 75% das 18 milhões de pessoas que morrem vítimas de doenças cardiovasculares a cada ano vivem em países com renda baixa ou média”, recordou o doutor Nizal Sarrafzadegan, da Universidade de Medicina de Ispahan, coautor do estudo.

A estratégia de uma superpílula barata, “se adotada em grande escala, poderia desempenhar um papel chave na concretização do ambicioso objetivo da ONU: reduzir a mortalidade prematura provocada por enfermidades cardiovasculares em pelo menos um terço até 2030”, destacou.

O estudo não permite uma generalização para outras populações. Uma pílula que reúne um coquetel de medicamentos, no entanto, facilita o respeito ao tratamento (63% dos participantes no estudo o seguiram de maneira adequada).

“Os futuros estudos deveriam comparar a ‘polypill’ com os medicamentos tomados separadamente, com resultados a longo prazo, assim como avaliar seus efeitos na população geral de vários países”, declarou o doutor Amitava Banerjee, da University College de Londres, que não participou no projeto.