Na internet ou na roda de amigas falar sobre prazer feminino é cada vez mais comum, embora não exclua o tabu ainda presente nesse tema. A ideia de liberdade sexual entre as mulheres ainda é recente, marcada principalmente pela descoberta da pílula anticoncepcional na década de 1960.

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O primeiro método contraceptivo oral mudou a perspectiva do prazer feminino, permitindo à mulher pela primeira vez o controle de uma situação que, até então, era imposta por um discurso do “divino ou da natureza”, conforme contextualiza a psicóloga feminista Lavínia Palma. 

O advento tecnológico da pílula hormonal trouxe inúmeras transformações para a gestão contraceptiva. “Essa inovação permitiu à mulher maior controle sobre sua reprodução e foi interpretada como uma importante conquista no processo de busca pela igualdade de gênero, libertando da maternidade compulsória”, destaca Anamarya Rocha, sexóloga e ginecologista da clínica JK Estética Avançada, em São Paulo.

Lavínia comenta que tal revolução “não foi só da mulher, como também da sexualidade”, pois mudou os hábitos sexuais e, principalmente, ajudou a desvincular o prazer feminino da reprodução. 

Como a revolução expõe o machismo

Enquanto uma mulher pode engravidar apenas uma vez a cada nove meses, mesmo transando diariamente, um homem pode engravidar milhares de mulheres nesse período. Essa relação, entre tantas outras, reforça que apesar de marcar a liberdade sexual feminina, a pílula anticoncepcional e os demais métodos contraceptivos hormonais femininos, descobertos posteriormente, enfatizam o sistema patriarcal. 

“Diante disso fica o questionamento: por que a sociedade e a ciência dedicam os esforços para o controle de natalidade das mulheres e não dos homens? A resposta basicamente é: porque isso é fruto de um sistema patriarcal e que a indústria farmacêutica é dirigida por homens”, pondera a psicóloga.

Anamarya Rocha reflete que outro ponto negativo dessa revolução sexual é a prática de sexo sem preservativo, cada vez mais comum e mais precoce entre os jovens, independentemente da classe social. A responsabilidade sobre as consequências do ato desprotegido muitas vezes é direcionada exclusivamente à mulher, sem considerar as chances de falha dos métodos contraceptivos hormonais e a vulnerabilidade às infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).

“A negligência na prática da contracepção e da prevenção das doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) tem direcionado muitas mulheres à exposição ao HIV/AIDS e as demais ISTs, bem como à gravidez não planejada”, esclarece a ginecologista.

Como escolher um método contraceptivo

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Segundo a médica, os contraceptivos visam prevenir a gestação. Entre os métodos há opções hormonais que, geralmente, agem bloqueando a ovulação, como DIUs hormonais, pílula anticoncepcional, implante subcutâneo e injeções — esses, bem como a esterilização cirúrgica (laqueadura tubária e vasectomia), são os mais efetivos. Já os métodos não hormonais podem ser de barreira, como o preservativo — único capaz de prevenir ISTs — ou comportamentais, como a tabelinha.

“Não existe um método contraceptivo universal que seja melhor para todas as mulheres, devendo a escolha ser particularizada para cada caso”, garante a especialista, que aconselha conversar com um ginecologista de confiança para conhecer a opção que mais condiz com suas expectativas e necessidades. No Instagram, ela compartilha algumas dicas para ajudar na escolha:

https://www.instagram.com/p/CZr5oRBpP3i/

“As mulheres têm buscado conhecer cada vez mais os diversos métodos contraceptivos que tenham mais vantagens do que desvantagens para elas, optando muitas vezes pelos que são livre ou com baixa dosagem de hormônios. Tudo isso sem esquecer da importância do uso do preservativo, que além de agir como um método contraceptivo, previne as ISTs”, conclui.