Desde a década de 1960, a pílula anticoncepcional tem sido uma escolha popular de contracepção para muitas mulheres em todo o mundo, como forma de garantir controle sobre sua fertilidade e de permitir que elas separem a atividade sexual da reprodução. Sabe-se que o medicamento, entretanto, pode trazer diversos efeitos colaterais à saúde. Mas será que a depressão pode ser um deles?

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Com informações do “The Conversation”, entenda se a pílula anticoncepcional pode afetar negativamente sua saúde mental.

Pílula anticoncepcional pode causar depressão?

De acordo com uma pesquisa do Escritório Australiano de Estatísticas (ABS), as mulheres são mais propensas a experimentar níveis altos ou muito altos de sofrimento psicológico (19% das mulheres em comparação com 12% dos homens), e as mulheres em idade reprodutiva (dos 15 aos 45 anos) apresentam altas taxas de depressão.

Em pesquisa publicada pela PubMed, estudos de neurociência feitos em laboratório mostraram que o estrogênio e a progesterona — “hormônios femininos” que a maioria das versões da pílula contém — influenciam a neuroquímica, a função cerebral e a atividade de neurotransmissores como ácido gama-aminobutírico (GABA), serotonina e dopamina. Isso pode causar depressão, alterações de comportamento e distúrbios na cognição.

Outros estudos de imagem cerebral indicaram que o estrogênio regula a ativação de regiões cerebrais envolvidas no processamento emocional e cognitivo, como a amígdala. A progesterona natural demonstrou ter alguns efeitos antiansiedade, agindo no sistema GABA.

Devido ao grande número de tipos de pílula e hormônios utilizados, pode ser difícil tirar conclusões de ensaios clínicos acerca do tema anticoncepcionais e depressão — bem como sobre a definição restrita da doença, que se refere principalmente ao transtorno depressivo maior grave. A depressão pode se manifestar como um espectro de transtornos de humor, incluindo depressão leve e moderada.

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No entanto, alguns resultados convincentes vêm de um grande estudo dinamarquês publicado pela “Jama Network”, com dados de mais de um milhão de mulheres. Nele, concluiu-se que o uso de anticoncepcional hormonal, principalmente entre adolescentes, esteve associado à depressão com necessidade de tratamento antidepressivo. Isso sugere fortemente que a depressão é um efeito adverso potencial do uso de contraceptivos hormonais.

Existem tipos de pílula piores do que outros?

Dados sugerem que os estrogênios sintéticos em geral parecem ter um efeito positivo na depressão, enquanto as progesteronas sintéticas — chamadas progestogênios — têm um efeito variado, incluindo o agravamento da depressão (dependendo do tipo e da dose). A maioria das pílulas contém ambos os hormônios.

A contracepção à base de progestagênio, conhecida como “minipílula”, parece criar uma maior propensão a transtornos depressivos em mulheres vulneráveis. E as usuárias do contraceptivo de progestagênio injetável acetato de medroxiprogesterona têm mais sintomas de depressão do que as não-usuárias.

Aparentemente, a adição de estrogênio no anticoncepcional hormonal melhora os impactos na saúde mental, e as pílulas anticoncepcionais orais mais recentes contendo o hormônio estradiol ou valerato de estradiol podem ser menos propensas a causar alterações de humor. A ligação entre tomar pílulas anticoncepcionais orais e depressão pode ser atribuída à quantidade e tipo de progestagênio contido nas pílulas anticoncepcionais orais.

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Milhões de mulheres usam contracepção hormonal sem impacto em sua saúde mental. No entanto, um número significativo de mulheres experimenta depressão pela primeira vez ou exacerbação da depressão existente ao tomar determinados tipos de pílulas. Portanto, é importante que as mulheres tomem nota de suas respostas individuais à contracepção hormonal e discutam isso com seus médicos, que devem ser capazes de avaliar as opções adequadas.