Automobilismo no fim de semana, vida de empresário nos dias úteis. Vários pilotos brasileiros começaram a apostar nos últimos anos em empreendimentos na gastronomia, em eventos, no mercado imobiliário e na área industrial como uma atividade complementar à vida nas pistas. O foco no pós-carreira e a oportunidade de ter novos parceiros comerciais fazem esses competidores gostarem cada vez mais dessa rotina dupla.

Nomes da Stock Car como Felipe Massa, Nelsinho Piquet, Átila Abreu e Galid Osman são alguns desses exemplos. Na Fórmula 1, o heptacampeão Lewis Hamilton tem um restaurante vegano em Londres. Ao contrário do futebol, que tem uma rotina intensa de jogos e treinos, os pilotos têm mais tempo livre para gerirem projetos pessoais. Muitos se beneficiam também da ampla rede de contatos com patrocinadores.

Ainda quando estava na Fórmula 1, Massa começou a trabalhar na produção de sucos prensados a frio e nos últimos anos entrou de vez na gastronomia. O piloto é sócio do restaurante Beef Bar e da marca de açaí Oak Berry. “Sempre acompanhei os meus investimentos e ultimamente tive o projeto de entrar em coisas diferentes”, disse ao Estadão. “Só vou entrar em coisas que confio e acredito”, afirmou.

Nelsinho Piquet decidiu se tornar empreendedor em 2012 com uma marca de cachaças. Com o tempo, resolveu ampliar a atuação e hoje mantém o restaurante Filadélfia, um complexo de eventos com pista de corrida, dois karts indoor e uma fabricante de miniatura de carros. “É importante também pensar no futuro. Eu cansei de ver pilotos que depois de pararem, tentaram viver vendendo participações em eventos ou sendo pagos para ir jantar”, contou.

O piloto também consegue se planejar para que os negócios próprios auxiliem na carreira no automobilismo. O restaurante vira um ponto de confraternização com a equipe e de reuniões com possíveis patrocinadores. Nas refeições, a cachaça própria é oferecida como divulgação. Quem gostar, pode virar cliente fixo. A decoração temática do local, com capacetes e macacões, é outro atrativo.

“Eu posso até incluir nas propostas aos meus patrocinadores a chance de oferecer uma cota de jantares, colocar uma venda de carros em miniatura ou oferecer meu espaço de eventos para uma atividade corporativa. Tudo isso me ajuda a ter um diferencial. Hoje em dia não é só colocar a marca no carro. Tem de entregar pacotes e até experiências aos meus parceiros”, explicou.

Como a Stock Car e outras categorias limitam a quantidade de testes, os pilotos costumam ter uma rotina mais tranquila. Durante a semana, fazem atividades físicas e atividades no simulador dentro de casa e podem trabalhar em horário comercial com outro empreendimento. É assim que o piloto Galid Osman faz para cuidar da fábrica de equipamentos de segurança montada há quatro anos.

Formado em Engenharia Civil, ele iniciou produzindo botas, capacetes e outros itens utilizados em obras. Mas a pandemia trouxe a ideia de produzir máscaras de acrílico (face shields). A empresa do piloto é agora a fornecedora do equipamento para toda a Stock Car. “A carreira de piloto é parecida com a de jogador de futebol. Você pode se manter em alto nível até uma certa idade. Por isso sempre procurei me preparar para um plano B”, disse.

Átila Abreu tem até um contrato diferente na Stock Car por causa da atuação nos negócios. Em vez de um salário fixo, o piloto faz a captação de patrocínios e divide o valor arrecadado entre si próprio e a equipe. Há 15 anos ele começou a atuar em outros empreendimentos e atualmente investe na construção de imóveis e na comercialização de camarotes para eventos de automobilismo.

“O nosso esporte fomenta a questão de relacionamento com grandes marcas porque sempre há várias empresas atuando. Então, sempre tem a chance de você, como piloto, olhar o mercado e fazer bons contatos”, disse. Anos atrás o piloto até intermediou uma negociação. Na Stock Car, ele conheceu um empresário que se interessou em comprar a empresa que era da família de Átila.