Poucos artistas se reinventaram com tanta frequência como Piet Mondrian (1872-1944). Ele abraçou a vida dinâmica em Amsterdã, Paris e Nova York em busca do novo e criou uma arte diferenciada e inovadora. Pode-se dizer que ele era um tomador de riscos, sem medo de fazer escolhas ousadas e destemidas. Com isso, tornou-se um dos artistas mais reconhecidos do século XX e virou um símbolo poderoso de modernidade.

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Por ter nascido em 1872, Mondrian viveu o início de duas guerras mundiais e presenciou a industrialização do mundo. Curioso e inteligente, não tinha medo de sair de sua zona de conforto para testar novas cores e formatos. Quem não está familiarizado com sua trajetória, acha que ele repetia o estilo dos quadros, mas esse é um ledo engano. As origens de Mondrian residem na arte clássica e realista.

Filho de um pastor holandês extremamente religioso, ingressou na Academia Real de Artes de Amsterdam em 1892. Começou produzindo paisagens, mas sempre trazia um olhar diferente e uma visão geométrica da cena. Somente em 1909, começou a pintar com um estilo mais abstrato. Para ele, o mínimo era o máximo. Foi com uso de apenas três cores que Mondrian revolucionou o mundo da arte. Sua paleta criou pinturas abstratas em vermelho, amarelo e azul, que se tornaram ícones mundiais indo muito além da cena holandesa conservadora.

Ele costumava pintar paisagens, como outros bons artistas holandeses da época, mas sua arte foi muito além dos campos europeus. Ele fugia do padrão, mesmo em quadros com estilo tradicional. Nas paisagens, por exemplo, pintava mais chão do que céu, em um estilo totalmente diferente de seus conterrâneos. Essa vontade de testar e de conhecer o novo, fez com que mudasse para Paris no início do século XX para ter a chance de estar com outros artistas como Pablo Picasso e Georges Braque, com quem desejava integrar o movimento cubista. Depois, aproximou-se de outros estilos e pintores, com a mesma agilidade que um vento leva uma pluma pelo ar.

A expressão fazer uma limonada com um limão, encaixa-se perfeitamente para ele. Quando estourou a Primeira Guerra Mundial, por exemplo, estava visitando a Holanda e foi forçado a esperar o fim da guerra em seu país natal. Não ficou parado. Mudou-se para uma colônia de artistas ao norte da Holanda e começou uma fase de descobertas de cores primárias com Bart van der Leck. Com Theo van Doesburg, fundou a publicação De Stijl (O Estilo) e começou a descrever como neoplasticismo sua nova filosofia da arte, que se destacava pela expressão na abstração da forma e da cor, com linhas retas, bem definidas e com cores primárias.

O esteticamente agradável ganhou outra dimensão com Modrian. Sua experiência com paisagens foi a base para esse novo modelo que tinha as mesmas regras de composição de suas primeiras pinturas de campos e naturezas mortas para equilibrar suas obras abstratas revolucionárias. Dizia que a natureza o inspirava, colocando-o em um perfeito estado de emoção.

Ele rompeu com os colegas do De Stijl por não aceitarem linhas diagonais e mergulhou em novos experimentos. As composições clássicas com quadrados e retângulos delimitados por linhas pretas só surgiram quando o artista estava perto dos 50 anos. Conforme sua jornada continuou, as linhas pretas de seus primeiros trabalhos abstratos começam a se dissipar e se misturar às formas. Depois de residir vários anos em Paris e Londres, mudou-se para Nova York durante a Segunda Guerra Mundial. Suas últimas pinturas Broadway Boogie-Woogie e Victory Boogie Woogie foram influenciadas pelo jazz americano e pelas luzes de néon de Manhattan.

Muito depois de sua morte em 1944, Mondrian continuou a influenciar artistas em diferentes meios.

Como um dos grandes pioneiros da arte modernista holandesa, deixou sua marca não apenas na arte, mas também no design, na arquitetura e na moda. Na década de 1960, Yves Saint Laurent criou a coleção de vestidos Mondrian, com grande sucesso, e muitos artistas seguiram seu estilo, que mudou muito ao longo de sua carreia, conforme as seis pinturas que selecionei abaixo:

1-“A Árvore Cinzenta” – Exemplifica a transição inicial de Mondrian em direção à abstração e sua aplicação dos princípios cubistas para representar a paisagem. A árvore tridimensional foi reduzida a linhas e planos usando uma paleta limitada de tons, apenas cinza e preto. Esta pintura faz parte de uma série de obras criadas por Mondrian, cujas primeiras árvores são representadas de forma naturalista e as últimas tornaram-se mais abstratas.

2-    “Pier and Ocean” – Essa pintura marca um passo definitivo no caminho de Mondrian em direção à abstração pura. Ele elimina as linhas diagonais e curvas, bem como as cores, fazendo uma única referência verdadeira à natureza no título e nas linhas do horizonte e nas estacas do cais. A obra transmite a sensação de paz e a quietude da alma.

3- Abstratos – Mondrian começou a criar em 1920 as pinturas abstratas que tornaram seu trabalho uma referência mundial. A simplificação dos elementos pictóricos foi essencial para a criação de Mondrian de uma nova arte abstrata, distinta do cubismo e do futurismo. As poucas cores primarias e as linhas pretas destacam o ritmo variado da vida moderna de época. Mondrian procurou expressar um ritmo mais dinâmico em suas abstrações com pinturas em “losangos”. Essas pinturas são conhecidas como tal por causa de sua forma de diamante. Ele introduziu uma linha diagonal da borda da tela em sua grade de linhas horizontais e verticais. Ao mudar a orientação da tela, Mondrian forneceu um precedente importante para as telas modeladas dos minimalistas na década de 1960. Mondrian também despertou o interesse dos minimalistas pela forma pura e pelo favorecimento do cinza, do branco e de cores suaves.

4 – “Broadway Boogie-Woogie” (1942-43) –  Esta tela é o ápice da busca de Mondrian ao longo da vida de transmitir a ordem que está por trás do mundo natural, com formas puramente abstratas em uma pintura plana. Esta obra e outras pinturas abstratas tardias mostram uma energia nova e revitalizada que foi diretamente inspirada pela vitalidade da cidade de Nova York e pelo ritmo do jazz. A distribuição assimétrica dos quadrados coloridos dentro das linhas amarelas ecoa o ritmo variado da vida na movimentada metrópole.

5 – “Composição em vermelho, azul e amarelo” – Mondrian refinou ainda mais seu estilo de abstração, com composições que mostravam sua ruptura com o cubismo. Afasta-se da paleta cubista (cinzas e marrons) e opta por vermelhos, amarelos e azuis. Essa fase de sua obra é a mais popularmente difundida e se caracteriza por telas com cores vivas primárias e linhas pretas que definem espaços e os limites da pintura. Os blocos de cor distribuídos assimetricamente reforçam a ideia que o pintor investia na percepção de sua obra como uma abstração materialista e sem profundidade, criticando a pintura histórica enquanto produzia uma abstração racionalista, espiritualista e, sobretudo, concreta do mundo.

Suas obras estão nos principais museus do mundo e seu nome é uma referência para o mundo dar artes, como não poderia deixar de ser. Se tiver uma boa história para compartilhar, aguardo sugestões pelo Instagram Keka Consiglio, Facebook ou no Twitter.