Poucas pessoas tiveram a oportunidade de existir de maneira autêntica, aproveitando a vida com todas as suas dores e alegrias até o limite da experiência humana. Artistas consagrados como Marlon Brando, Frank Sinatra, Orson Welles ou o escritor Gore Vidal, nomes conhecidos pela ousadia, são exemplos bem acabados de artistas que viveram radicalmente no século XX.
O estilista e empresário Pierre Cardin também entra nesse panteão de homens que seguiram as próprias regras, independentemente do que era socialmente aceitável na sua época. Ao morrer na madrugada do dia 29 em Neuilly-sur-Seine, cidade ao lado de Paris, Cardin entra para a história como um dos profissionais mais importantes da indústria da moda e do design.
Nos seus quase cem anos de existência, vestiu presidentes, namorou a atriz Jeanne Moreau e fez com que o modelo prêt-à-porter – o ato de comprar roupas prontas para vestir em uma loja – se tornasse um hábito popular e num padrão global de consumo. E foi além, Cardin transformou essa modalidade em algo elegante, contrariando a alta sociedade francesa da época que preferia roupas sob medida. Sem seu trabalho, talvez os shopping centers não existissem.
Roupas unissex? Lojas de departamento na Ásia? Moda no design de interiores? Restaurantes que brincam com o universo fashion e futurista? Esses são apenas alguns de seus legados. Nascido na Itália em 1922 e naturalizado francês, começou como alfaiate aos 14 anos após fugir para a França durante a Segunda Guerra.

Passou por casas como Paquin e Dior e não parou mais. Em 1950 fundou a sua própria marca. Excêntrico, chegou a comprar o castelo Lacoste, antiga propriedade do Marquês de Sade.
Sua peça mais famosa é o “Bubble Dress”, vestido que brinca com as formas geométricas, mas as roupas lendárias confeccionadas por ele são inúmeras e já foram tema de exposições em museus e livros de arte. Se hoje existe Marc Jacobs, Jean-Paul Gaultier e tantos outros, foi Pierre Cardin quem transformou estilistas em personalidades excêntricas e conhecidas.
O segredo de sua produtividade visionária? Segundo ele, trabalhar conhecendo todos os detalhes do que está sendo feito. “É preciso ser profissional. Eu aprendi a fazer um caseado à mão para poder dar ordens inteligentes”, disse o estilista em entrevista à France Presse em 2019.
“Tive sucesso em tudo o que fiz. A vida tem me favorecido”. E isso se confirma em números. O nome Pierre Cardin está à frente de um império que vai da moda a restaurantes, passando por perfumes, hotelaria e viagens, presente em 140 países.
Estima-se que sua fortuna seja de US$ 800 milhões, cerca de R$ 4 bilhões. “Sempre fui independente e livre. Sigo a minha verdade mesmo que eu erre. Não me equivoquei. Eu tenho fé em Cardin”, afirmou na mesma entrevista. Vai-se um gênio.