20/05/2016 - 20:00
Picasso: Mão Erudita, Olho Selvagem/ Instituto Tomie Ohtake, SP/ até 14/8
É bastante especial caminhar por entre obras que foram escolhidas por um artista para estar ao seu lado por toda a vida. Poderia se dizer que elas guardam uma aura de intimidade e afeto, cultivada ao longo de anos de convivência. Essa situação torna-se ainda mais privilegiada se o artista em questão é Pablo Picasso. Em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, a partir de domingo 22, a mostra “Picasso: Mão Erudita, Olho Selvagem” traz nada menos que 116 trabalhos – 34 pinturas, 42 desenhos, 20 esculturas e 20 gravuras – pertencentes ao Musée National Picasso, de Paris, cujo acervo é formado por peças provenientes do espólio do grande artista espanhol. Trata-se, portanto, de um museu “pessoal”, composto por obras que estavam nos seis ateliers que o artista mantinha em diversos lugares da França.
Com curadoria de Emilia Phillippot, do museu parisiense, a mostra compõe um retrato do artista em um percurso cronológico-temático de suas principais fases. O Picasso construído pela curadoria é multifacetário: exorcista, cubista, clássico, surrealista, engajado, experimental, erótico. Acima de tudo, íntimo. A intimidade se revela em retratos da mãe, do primogênito e do amigo de juventude que se suicidou em 1901 por um desilusão amorosa, representado no precioso “A Morte de Casagemas”.
“Picasso foi permeável a muitas influências”, diz Phillippot à ISTOÉ. “Mostramos o sincretismo de suas referências, a fim de chegar a algo bem pessoal”. Entre as influências que se destacam das primeiras fases estão a art nouveau; Toulouse-Lautrec; El Greco; o expressionismo alemão; arte africana; Van Gogh e o pós-impressionismo, que se revelam na pincelada do quadro dedicado a Casagemas.
Picasso assimilava influências como uma esponja e nunca teve pruridos sobre isso – pelo contrário –, mas também foi um pioneiro insuperável. Foi notoriamente o autor da primeira colagem da história da arte, realizada em 1912, e também um precursor nos estudos da arte africana, em que elaborou as linhas mestras para “Les Demoiselles D’Avignon” (1907). Desenhos, pinturas e estudos preparatórios desta que foi uma de suas obras-primas estão em exibição na mostra, que posteriormente viajará para o Rio de Janeiro e Santiago do Chile.