Para mim, Pablo Picasso (1881–1973) é o maior artista de todos os tempos por suas múltiplas habilidades e por ter conseguido manter seu nome em destaque por mais de sete décadas. Isso mesmo! Ele começou a pintar quando era ainda um menino e já na adolescência já tinha superado as habilidades de pintura de seu pai (professor de desenho), tendo apresentado aos quinze anos a sua primeira pintura ‘Primeira Comunhão’ em uma exposição na Barcelona Fine Arts. Durante 78 anos de uma extensa carreira, Picasso produziu mais de 120 mil obras, entre pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, figurinos e cerâmicas. Poucos sabem, mas Picasso também foi um vanguardista nos meios digitais. Em 1971, ele foi pioneiro na projeção de suas próprias obras ao autorizar o formato audiovisual de suas pinturas em Les Halles Baltard, na França.

A partir de amanhã (9/3), período que marca os 50 anos de sua morte, a exposição “Imagine Picasso” chega a São Paulo com mais de 200 obras, de forma imersiva. Com curadoria, cenografia e produção de equipe francesa, além de ter tido autorização da Picasso Administration, a mostra amplia as obras de Picasso para uma enorme dimensão digital, incluindo obras-primas como ‘Guernica’ (leia minha coluna). A mostra foi criada por Annabelle Mauger e Julien Baron, em colaboração com a historiadora de arte Androula Michaël e com o arquiteto Rudy Ricciotti – vencedor do Grand Prix National d’Architecture, da França. Tem produção da Encore Productions (responsável também pela foto desta coluna) e será apresentada no Brasil pela Dueto Produções. Já circulou por Lyon (França), Quebec e Vancouver (Canadá), Atlanta e San Francisco (EUA) e Madri (Espanha).

Para acompanhar a dinâmica das obras de Picasso, a exposição tem ampliações monumentais replicadas em volumes e tamanhos diversos, inclusive diagonal, criando, de maneira inédita, uma nova topografia que excede as linhas verticais e horizontais de outras exposições. Assim, a sensação do público é de estar livre dentro da obra em termos de movimento e direção. A trilha sonora faz com que a experiencia seja ainda mais impactante.

Os criadores artísticos da mostra dizem que tornar a obra de Pablo Picasso acessível a todos, não importa a idade, a cultura nem a língua do espectador, é uma experiência única. Foram feitos estudos sobre o ateliê de Picasso e a forma como ele colocava desorganizadamente as obras. Com esse novo olhar de imersão, o famoso quadro ‘Les Demoiselle d’Avignon’ está reproduzido na horizontal, e não na vertical como o a obra original.

Não há dúvidas que Pablo Picasso é um dos artistas que mais revolucionou a arte no século XX e até hoje influencia o mundo das artes. Contribuiu significativamente para uma série de movimentos artísticos como cubismo, surrealismo, neoclassicismo e expressionismo. Fez muito sucesso por muitas décadas e pintou até poucas horas antes de falecer aos 91 anos.

Sua vida sempre foi agitada, fascinante e tensa. Aos treze anos, em 1895, começou a se preparar para a adversidade. Esteve diante do maior dilema de sua vida: a morte. Na ocasião, fez um pacto terrível com Deus, prometendo sacrificar a pintura, sua maior paixão, caso sua irmã Conchita se recuperasse. Com apenas sete anos, ela acabou falecendo de difteria, após uma terrível jornada de sofrimento. Suas promessas de nada adiantaram. Sua culpa era enorme. Felizmente para nós, ele acabou achando que a morte de sua irmãzinha o havia libertado para ser um pintor famoso e seguir o chamado que ele recebera para ser um pintor famoso, quaisquer que fossem as consequências.

Nasceu em Málaga (Espanha) e chegou em Paris apenas alguns dias antes de completar dezenove anos. Não falava francês e não tinha onde ficar. No começo, não se importava com a falta de dinheiro e passava a maior parte do tempo nas ruas, revendo a cama com um colega e procurando absorver o que acontecia na pintura da época. Quando conseguia algum trocado, buscava diversão em prostíbulos. Viveu momentos terríveis de extrema pobreza, desespero e frio, a ponto de queimar desenhos para conseguir se proteger das baixas temperaturas.

Paris desencadeou uma onda de experimentações em Picasso e uma produção artística de mais de uma pintura por dia. Sua vida sempre foi repleta de mitos, histórias dramáticas e pitadas de casos fantásticos. Ele mesmo tratou de romancear vários momentos de sua trajetória, recontando episódios com edições e menos verdades. Tentava criar um mito para tirar o foco de seus problemas com mulheres, filhos, amigos, familiares e, também, das brigas com outros pintores. Em um dado momento, chegou a ter quatro mulheres simultaneamente.

Seu trabalho evoluiu continuamente com as passar dos anos, estando sempre em destaque. Teve várias influências e produções artísticas inspiradas em diferentes movimentos. Criou muitas séries e obras memoráveis. Produzindo em ritmo acelerado, criou milhares de obras e posicionou seu nome no topo da lista de artistas.

Na Fase Azul (1901- 1905), pintou a solidão, a morte e o abandono. Sofreu nesse período com o suicídio de um amigo. O museu MASP tem em seu acervo uma das últimas telas pintadas nessa época, “Retrato de Suzanne Bloch”. Quando se apaixonou por Fernande Olivier, suas pinturas mudaram, inaugurando a Fase Rosa (1905 – 1906), muito importante por ser o início de uma etapa de experimentações. Registrou tons mais alegres e a presença de acrobatas, dançarinos e arlequins como personagens do mundo do circo. Rapaz com a Pipa foi pintado nessa época. Em 1906, sua obra entra em uma etapa pré-cubismo, marcada pela influência das artes ibérica, grega e africana. O MASP também tem em seu acervo um belo quadro cubista chamado ‘Busto de Homem’ (1909).

Seu método criativo foi evoluindo com o passar dos anos, estando sempre à frente do seu tempo. Por reinventar a pintura da época e retratar a realidade de uma maneira completamente diferente, ‘Les Demoiselles d’Avignon’ (1907), tornou-se uma das obras de arte mais conhecidas do século XX.  Consumiu nove meses para ser produzida e chama a atenção com corpos e fundo como formas geométricas. O primeiro título desse quadro era Bordel Filosófico, mas Picasso decidiu renomear apesar de ter como inspiração um bordel de Barcelona. Mostra cinco mulheres nuas, desenhadas com linhas irregulares e quebradas. A arte africana, que fascinava Picasso na época, está fortemente presente por meio de máscaras na tela, que tem composição geométrica e uso de azul em algumas partes. Em primeiro plano, há um sensual prato de frutas e a pintura chama a atenção também pelo olhar das personagens, que praticamente convidam o espectador a se deliciar com seus corpos. Até mesmo a prostituta de costas faz uma ginástica corporal para olhar para o observador.

Falar de Picasso é uma alegria e há muitas curiosidades a seu respeito (leia minha coluna). Por essas pinturas que eu comentei e para saber mais sobre outras milhares de obras e histórias sobre o artista, a exposição Imagine Picasso é imperdível. Programe-se pelo site e aproveite a experiência que estará no MorumbiShopping (SP) até 9 de maio. Se tiver uma boa história para compartilhar, aguardo sugestões pelo Instagram Keka Consiglio, Facebook ou no Twitter.