A Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tinha conhecimento do plano para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A informação foi dada na denúncia apresentada nesta terça-feira, 18, contra o ex-presidente por participação em um intento golpista.
O plano foi arquitetado pelo ex-número dois da Secretaria-Geral da Presidência da República no governo Bolsonaro, o general Mário Fernandes. A proposta, segundo a Polícia Federal, foi elaborada e impressa dentro do Palácio do Planalto.
A ideia era usar os Kids Pretos, batalhão especial do Exército, para os atentados contra as autoridades. A PF aponta que o plano previa o uso de armamento restrito, como fuzis, e tinha o aval da alta cúpula do Planalto, incluindo o vice na chapa de Bolsonaro e ex-ministro Walter Braga Netto.
Na denúncia, a PGR afirmou que o plano chegou ao conhecimento de Jair Bolsonaro e que o ex-presidente teria anuído à ideia. A sugestão surgiu na mesma época em que Bolsonaro admitia internamente que não havia fraude nas urnas eletrônicas.
“Os membros da organização criminosa estruturaram, no âmbito do Palácio do Planalto, um plano de ataque às instituições, com vistas à derrocada do sistema de funcionamento dos Poderes e da ordem democrática, que recebeu o sinistro nome de ‘Punhal Verde Amarelo’”, afirma a denúncia.
“O plano foi arquitetado e levado ao conhecimento do Presidente da República, que a ele anuiu, ao tempo em que era divulgado relatório no qual o Ministério da Defesa se via na contingência de reconhecer a inexistência de detecção de fraude nas eleições”, ressaltou.
Para comprovar a tese, a PGR cita mensagens trocadas entre Mário Fernandes e o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, em que mencionam uma fala do ex-presidente de que “qualquer ação pode acontecer até 31 de dezembro”.
“Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição, que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo. Mas (…) aí, na hora, eu disse: ‘Pô, presidente, mas o quanto antes, a gente já perdeu tantas oportunidades’”, disse Mauro Cid a Mário Fernandes na época.
“A ciência do plano pelo Presidente da República e a sua anuência a ele são evidenciadas por diálogos posteriores, que comprovam que JAIR BOLSONARO acompanhou a evolução do esquema e a possível data de sua execução integral”, aponta a PGR.
Na denúncia, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirma que a falta de apoio do Exército ao plano golpista provocou um recuo dos Kids Pretos na tentativa de assassinato a Lula.
“No dia 15 de dezembro de 2022, os operadores do plano, com todos os preparativos completos, somente não ultimaram o combinado por não haverem conseguido, na última hora, cooptar o Comandante do Exército”, aponta a Procuradoria.
“A frustração dominou os integrantes da organização criminosa, que, entretanto, não desistiram da tomada violenta do poder nem mesmo depois da posse do Presidente da República eleito. As campanhas pela intervenção militar prosseguiram com o alento e a orientação da organização”, completa.
Ainda de acordo com a PGR, o último fio de esperança da cúpula bolsonarista eram os ataques de 8 de janeiro. Segundo a denúncia, os aliados do ex-presidente arquitetaram as invasões aos Três Poderes por meio de trocas de mensagens e, também, com a anuência de Bolsonaro.
“A última esperança da organização estava na manifestação de 8 de janeiro. Seus membros trocavam mensagens, apontando que ainda aguardavam uma boa notícia.”
“A organização incentivou a mobilização do grupo de pessoas em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília, que pedia a intervenção militar na política. Os participantes daquela jornada desceram toda a avenida que liga o setor militar urbano ao Congresso Nacional, acompanhados e escoltados por policiais militares do Distrito Federal”, ressalta a denúncia.