SÃO PAULO, 13 MAI (ANSA) – O ex-presidente da Pfizer Brasil e atual CEO para América Latina da farmacêutica, Carlos Murillo, confirmou nesta quinta-feira (13) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 que o vereador Carlos Bolsonaro e o assessor especial da Presidência Filipe Martins participaram de uma reunião entre a empresa e o governo federal para a aquisição de vacinas contra o coronavírus Sars-CoV-2.   

Segundo o executivo, o filho ’02’ do presidente Jair Bolsonaro e Martins acompanharam parte de uma reunião em setembro com representantes da farmacêutica.   

“Sobre as reuniões me foi solicitado procurar informações sobre a reunião que nossa diretora jurídica teve com o senhor Fabio Wajngarten no dia 7 de dezembro. Então, se me permitir, posso relatar o que ela oficialmente enviou para mim”, disse.   

“Após aproximadamente uma hora de reunião, Fabio [Wajngarten] recebeu uma ligação, sai da sala e retorna para reunião. Minutos depois entram na sala de reunião Filipe Garcia Martins e Carlos Bolsonaro. Fabio explicou a Filipe Garcia Martins e a Carlos Bolsonaro os esclarecimentos prestados pela Pfizer até então na reunião. Carlos ficou brevemente na reunião e saiu da sala.   

Filipe Garcia Martins ainda permaneceu na reunião”, contou Murillo.   

O ex-presidente da Pfizer não estava presente no encontro, mas confirmou a existência e os participantes. A informação foi repassada pela diretora jurídica da Pfizer, Shirley Meschke, durante o depoimento à CPI.   

Inicialmente, Murillo afirmou que não tinha como confirmar a presença de Carlos e Martins, mas alegou que as tratativas foram feitas apenas como “autoridades oficiais do governo do Brasil”.   

No entanto, após o relator da CPI, senador Renan Calheiros, ameaçar convocar outros representantes da Pfizer para esclarecer o ocorrido, ele revelou a informação.   

De acordo com Murillo, o ex-secretário de Comunicação Social Fabio Wajngarten, Meschke e a gerente de relações governamentais Eliza Samartini estiveram presentes também.   

A conversa aconteceu no quarto andar do Palácio do Planalto, onde funciona a sala da Secretaria de Comunicação (Secom).   

A comissão está tentando identificar um suposto “assessoramento paralelo” do governo federal na gestão da pandemia de Covid-19, conforme indicado nos depoimentos dos ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.   

Os dois ex-ministros reafirmaram a existência desse aconselhamento paralelo, contrário às orientações do Ministério da Saúde.   

Durante a sessão desta quinta, Murillo também contou que a negociação da Pfizer foi ignorada por três meses pelo governo de Bolsonaro. “Nossa oferta de 26 de agosto tinha uma validade de 15 dias. Passado os 15 dias, o governo brasileiro não rejeitou, mas tampouco aceitou a oferta”, disse.   

Ao todo, foram feitas pelo menos seis ofertas da vacina desenvolvida pela Pfizer, a partir de agosto de 2020, antes do contrato ser fechado, com as mesmas cláusulas.   

Reação – Durante entrevista após o fim do depoimento, Calheiros disse que as revelações de Murillo indicam uma participação indevida do filho de Bolsonaro nas tratativas do governo federal.   

“[O depoimento] constata que ele [Carlos Bolsonaro] participou das tratativas. Significa que ele participou indevidamente de tratativas do governo federal, não sendo do governo federal, sendo vereador”, afirmou Renan. (ANSA)