A Polícia Civil de Minas Gerais recebeu, no mês passado, um relatório da Polícia Federal com conversas entre dirigentes e integrantes do departamento jurídico do Cruzeiro que levantam suspeitas de desvio de recursos do clube.

Os indícios estão sendo investigados no inquérito da Divisão de Investigação de Fraudes, que apura o cometimento de crimes pela antiga gestão do clube, conforme revelado pelo Fantástico no ano passado, as informações são do Globoesporte.com.

De acordo com despacho da juíza Camila Franco e Silva Velano, da 4ª Vara Criminal Federal de Belo Horizonte, de 26 de março, foram compartilhadas com a Polícia Civil cópias de mensagens trocadas por aplicativo de celular entre o advogado e conselheiro do Cruzeiro, Ildeu da Cunha Pereira Sobrinho, e o advogado Leopoldo Souza Lima Mattos de Paiva.

Segundo o despacho, as investigações apontam Leopoldo como “interposto na movimentação supostamente ilícita de valores do Cruzeiro Esporte Clube”. Os dirigentes e pessoas ligadas ao clube mineiro, neste relatório, não são investigados pela PF. Suas condutas serão analisadas em inquérito da Polícia Civil, ainda em curso.

A decisão judicial de compartilhamento ainda cita: “Foram revelados indícios de práticas criminosas, relacionadas ao desvio de recursos do CRUZEIRO ESPORTE CLUBE por meio de pagamento de honorários para advogados e para serviços de contabilidade. Ademais, o Presidente do CRUZEIRO ESPORTE CLUBE, ITAIR MACHADO, e o Diretor Jurídico, FABIANO DE OLIVEIRA COSTA, deixaram evidenciar a possibilidade de outros desvios de recursos do clube, envolvendo os advogados ora investigados, ILDEU DA CUNHA PEREIRA e CARLOS ALBERTO ARGES”.

No despacho, a magistrada refere-se ao ex-vice de futebol, Itair Machado, como sendo o presidente do clube, mas este posto era ocupado por Wagner Pires de Sá. Não está claro se o erro foi de pessoa ou de função. O nome de Itair é citado em alguns diálogos sob investigação.

Ildeu e Arges foram presos pela pela Polícia Federal no ano passado, após serem investigados nas Operações Escobar e Capitu. Arges foi advogado do clube, enquanto Ildeu, além de conselheiro, também exerceu cargo de superintendente jurídico da agremiação. Ildeu morreu em fevereiro deste ano, aos 58 anos, após sofrer um enfarte.

Foi no celular de Ildeu que a Polícia Federal encontrou os indícios de desvios de recursos que são investigados e agora foram compartilhados. O material é fruto da operação Escobar. Em outubro do ano passado, o Esporte Espetacular detalhou suspeitas da Polícia Federal em outro inquérito, da Operação Capitu.

O material colhido nesta outra investigação foi encaminhado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) em julho do ano passado e aguarda decisão para compartilhamento com a Polícia Civil de Minas Gerais.

Ainda segundo o Globo Esporte, Leopoldo Souza Lima Mattos de Paiva foi procurado pela reportagem por meio de seu advogado, Antonio Velloso Neto. O representante disse que nem ele, nem seu cliente estão cientes da investigação, nem foram chamados a prestar qualquer esclarecimento e que, portanto, preferem aguardar a ciência dos fatos.

Fabiano de Oliveira Costa negou participação no esquema de desvio de recursos na primeira vez em que foi procurado pela reportagem, no ano passado. Na última quarta-feira (17), ele foi procurado novamente. Segundo o advogado que o representa, Leonardo Bandeira, o ex-advogado do Cruzeiro “não tem nenhum nenhum envolvimento com estes alegados ilícitos”.

Itair Machado afirmou que houve um erro de digitação da magistrada ao incluir seu nome no despacho e que ele nunca foi investigado pela Polícia Federal. Ao ser informado pela reportagem de que, mesmo não tendo sido investigado pela PF, seu nome consta nos relatórios e diálogos enviados à Polícia Civil, o ex-vice de futebol do clube disse que: “Tenho a dizer que não sou investigado no trabalho da Polícia Federal e que sequer fui intimado. Lembrando que todos envolvidos no inquérito da PF foram intimados e ouvidos. Eu sequer fui intimado. É o que tenho a dizer.”

Embora citado no despacho judicial, a conduta de Carlos Alberto Arges não está sendo investigada pela Polícia Civil quanto ao conteúdo apreendido no celular de Ildeu. Ele é investigado pela Polícia Federal em inquéritos que apuram vazamento de informações sigilosas da corporação para grupos investigados.