DIRETOR-GERAL Maiurino: acusado
de perseguir delegados e de comprar apartamento suspeito nos EUA (Crédito:Divulgação)

Quando Bolsonaro passou a ser investigado por tentar interferir na Polícia Federal (PF) a pedido do ex-juiz Sergio Moro, ninguém imaginou que a corporação estaria em pouco tempo totalmente dominada pelo capitão. Um dos principais órgãos estatais de investigação e de combate à corrupção, a PF passa, sob a batuta do mandatário, por um período tenebroso, marcado por perseguições políticas, boicotes e blindagem a familiares do presidente. Para atingir seus objetivos, Bolsonaro segue uma cartilha bem clara: impõe aliados em cargos importantes na PF dispostos a obedecer suas ordens e que passam depois a deter o controle total sobre os trabalhos da corporação. De lá para cá, 18 delegados sofreram punições por parte da direção do órgão por terem aberto procedimentos investigativos contra integrantes do governo ou de amigos do presidente. Muitos deles, insatisfeitos e inconformados com a perseguição, já ensaiam entregar seus cargos caso Bolsonaro não mude a gestão da instituição, enquanto outros acionaram a Corregedoria da PF pedindo investigação contra o diretor-geral, Paulo Gustavo Maiurino, acusado de várias irregularidades, incluindo a compra de um imóvel suspeito nos EUA.

PERSEGUIÇÃO Delegados combativos são trocados por aliados de Bolsonaro: suspeita de conivência com malfeitos (Crédito:Divulgação)

O episódio mais recente envolveu a delegada Silvia Amélia Fonseca. Ela foi punida por atingir interesses escusos do bolsonarismo ao desempenhar suas funções. Quando ainda era chefe da Diretoria de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça (DRCI), órgão responsável por pedidos de extradição, Silvia tomou providências para agilizar o processo de repatriação para o Brasil do blogueiro bolsonarista Allan do Santos, próximo ao clã, e que foi alvo de ordem de prisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em outubro de 2021. Pouco tempo depois de ter atendido a ordem do STF, a delegada foi destituída da função. O governo queria que ela não encaminhasse, ou retardasse, o pedido de extradição do blogueiro.

Nos últimos quatro meses, seis dos oito delegados que integram o Serviço de Inquéritos (Sinq), repartição que investiga autoridades com foro especial, foram substituídos. As trocas ocorreram por conta de uma crise criada por divergências a respeito do que está sendo investigado em relação ao orçamento secreto, manobra armada com a anuência do mandatário para distribuir dinheiro público a aliados no Congresso na tentativa de alimentar seus projetos eleitoreiros. Já Paulo Maiurino, diretor-geral da PF desde abril de 2021, é acusado de estar por trás desse esquema de perseguição a delegados, e tem sido alvo inclusive de suspeitas lançadas contra ele por colegas da instituição. Segundo delegados da PF, Maiurino teria enriquecido nos últimos anos. Ele teria conseguido quitar um apartamento de luxo no valor de R$ 3,5 milhões em Miami Beach, nos EUA. A transação foi realizada em 2016, época em que sua renda anual, somada com a da sua mulher, a funcionária pública Renata Veit, era incompatível para a realização de uma compra desta monta. A notícia despertou suspeitas até mesmo de alguns delegados. Demitido da superintendência do Amazonas por investigar denúncias de corrupção em um esquema de corte ilegal de madeira na Amazônia, o delegado Alexandre Saraiva enviou um ofício ao corregedor-geral da PF no qual pede que Maiurino seja investigado pela compra do imóvel, sob o argumento de que o caso “pode caracterizar prática de conduta descrita no artigo 1º da lei 9613/1998”. Trata-se da lei que regulamenta o crime de lavagem de dinheiro e ocultação de bens. No texto, enviado em 12 de novembro à Corregedoria da PF, ao qual a ISTOÉ teve acesso, Saraiva justifica que deseja preservar seus superiores. “Ressalto que, excepcionalmente, deixo de seguir o canal hierárquico usual para preservar meus superiores hierárquicos de eventuais retaliações”, afirmou.