PF aponta que Bolsonaro recebeu R$ 30 milhões em um ano

Gustavo Moreno/STF
Ex-presidente Jair Bolsonaro Foto: Gustavo Moreno/STF

O relatório final da Polícia Federal sobre a investigação contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP) aponta que o ex-chefe do Executivo recebeu, de março de 2023 e fevereiro de 2024, R$ 30.576.801,36. Desse valor, R$ 30.595.430,71 foram retirados de suas contas.

As informações constam em um RIF (Relatório de Inteligência Financeira) elaborado pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) com base em dados enviados pelo Banco do Brasil.

Segundo o relatório da PF, a maior parte dos depósitos veio de transferências por Pix. O documento registra que o ex-presidente recebeu 1.214.254 de depósitos por meio dessa modalidade de transação.

No total, Bolsonaro arrecadou R$ 19.279.915,45, o que representa 64% do dinheiro que entrou nas contas do ex-mandatário. Os depósitos foram realizados por doações voluntárias de seguidores do ex-chefe do Executivo, principalmente em 2023. Na época, ele agradeceu publicamente a ajuda financeira, mas a cifra mencionada por ele foi de R$ 17 milhões.

A maior parte dessa movimentação foi destinada ao pagamentos de advogados e depósitos em aplicações financeiras.

“No período de 01/03/2023 a 07/02/2024, foram movimentados R$ 30.576.801,36 em créditos e R$ 30.595.430,71 em débitos”, escreveu a Polícia Federal.

Nesse período, os dois escritórios de advocacia que defendiam o ex-presidente receberam R$ 6,6 milhões, de acordo com a PF.

“Quanto aos débitos, mais de cinquenta por cento do valor total movimentado no período referem-se a aplicações em CDB/RDB, concentradas em 6 lançamentos, que somaram R$ 18.325.000,00″, diz a PF.

A PF também identificou um grande volume de transações no período de dezembro de 2024 a junho de 2025: R$ 22 milhões em movimentações.

Foi nessa época que Bolsonaro transferiu R$ 2,1 milhões para seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), e outros R$ 2 milhões para sua esposa Michelle. Para a PF, os repasses a Eduardo serviram para financiar suas ações nos Estados Unidos contra o governo brasileiro, enquanto a transferência para Michelle tinha o objetivo de driblar um eventual bloqueio de suas contas bancárias.

Com base nos dados do Coaf, a Polícia Federal também identificou movimentações atípicas de dois filhos do ex-presidente, Eduardo e Carlos, além de Michelle.

No caso da ex-primeira dama, ela recebeu créditos de R$ 2,9 milhões entre setembro de 2023 e agosto de 2024, além de ter gastado R$ 3,3 milhões no mesmo período. A maior parte dos recebimentos foi proveniente de uma empresa da qual ela é sócia, a MPB Business, que creditou para ela R$ 1,9 milhão.

As transações de Eduardo Bolsonaro que foram consideradas atípicas incluem o recebimento de R$ 2,1 milhões transferidos por seu pai e uma operação de câmbio de R$ 1,6 milhão.

Carlos Bolsonaro e a venda de um apartamento

No caso do vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), a PF diz que ele recebeu R$ 4,8 milhões entre setembro de 2023 e agosto de 2024.

O documento cita que, no período, o filho do ex-presidente recebeu um pagamento de R$ 700 mil do empresário Mario Pimenta de Oliveira Filho.

Oliveira Filho confirmou o pagamento e disse que ele é referentes à compra de um apartamento que pertencia a Carlos Bolsonaro, na Tijuca.

O comprador contou ter feito a aquisição sem saber quem era o proprietário, informação que só obteve no ato da assinatura de documentos em cartório. Mário Filho atua no ramo de oficinas de automóveis.

Oliveira Filho disse que mora no prédio e comprou o apartamento, no andar de baixo, para receber uma familiar que enfrentava problemas de saúde.

“Não sabia que era dele. Pela documentação, vi que pertencia a ele desde 2003, salvo engano. Não sou do ramo da política, sou comerciante”, disse o empresário, que relatou ter colocado o imóvel novamente à venda.

O indiciamento dos Bolsonaro

ex-presidente e seu filho foram indiciados em um inquérito que apura a atuação de ambos para obstruir a Justiça na investigação de uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, pela qual Jair é réu no STF e pode ser condenado a até 43 anos de prisão. Ambos foram indiciados por coação no curso do processo e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

O inquérito investiga a ida de Eduardo para os Estados Unidos, em março de 2025, com o objetivo declarado de articular reações da Casa Branca à atuação do ministro Alexandre de Moraes, relator dos processos contra o pai na corte.

Desde que o deputado licenciado está em solo americano, o presidente Donald Trump impôs tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros enviados ao país, revogou vistos de Moraes e aliados e enquadrou o magistrado na Lei Magnitsky. O ex-presidente entrou no processo após financiar a ida do filho para o exterior.