Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) – As pessoas entendem que o trabalho de política monetária do Banco Central no combate à inflação foi “em grande parte” feito, disse nesta quinta-feira o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, citando que o país é um dos poucos em que o mercado já precifica uma queda dos juros à frente.

“O Brasil fez o trabalho mais cedo, mais rápido e as pessoas entendem que o trabalho do Banco Central está em grande parte feito”, afirmou.

Neste mês, o BC elevou a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, a 13,75% ao ano, e informou que avaliará um ajuste residual na reunião de setembro, indicando que o agressivo ciclo de aperto monetário iniciado em 2021 foi encerrado ou está próximo do fim.

Para Campos Neto, o cálculo do impacto cumulativo da taxa básica de juros mais alta envolve bastante incerteza e explica parte das diferenças entre as estimativas do BC e do mercado para a inflação. Por isso, segundo ele, o BC vai acompanhar os movimentos de preços e tem dito que busca levar o índice para o redor da meta.

Em evento promovido pelo banco BTG, o presidente do BC explicou que a decisão de focar a política monetária no primeiro trimestre de 2024 é temporária e não muda o alvo da inflação.

Na reunião deste mês do Comitê do Política Monetária, o BC informou que decidiu dar ênfase à inflação acumulada em doze meses no primeiro trimestre de 2024, com o argumento de que a medida suaviza os efeitos diretos das mudanças tributárias implementadas pelo governo neste ano, que preveem corte temporário de impostos, com aumento da taxação em 2023.

“Isso não quer dizer que a gente muda o inflation target, ao contrário, a gente deixa bem claro que está falando sobre horizonte relevante, não sobre meta de inflação”, disse. “Obviamente não é permanente, é temporário. À medida em que isso se ajuste, a gente volta a trabalhar na forma como a gente sempre trabalhou.”

Ao dizer que a autoridade monetária tem afirmado que busca levar a inflação para o redor da meta, Campos Neto ressaltou que variações de 0,10 ou 0,15 ponto percentual em relação à meta são “uma sintonia fina”.

As metas de inflação para 2023 e 2024 são de, respectivamente, 3,25% e 3,00%, mas as expectativas do mercado apontam para índices maiores em ambos os períodos.

BRASIL X MUNDO

No evento, Campos Neto traçou um cenário global desafiador, com inflação pressionada e desaceleração econômica, ao mesmo tempo em que apresentou visões positivas sobre o Brasil.

O presidente do BC disse que a autoridade monetária revisará sua projeção de crescimento Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2022 para “um pouco acima de 2%”. A estimativa atual do órgão, divulgada em junho, aponta alta de 1,7%.

Ele afirmou que o momento geopolítico e elementos macroeconômicos tendem a gerar fluxo positivo de recursos para o Brasil, destacando o interesse de empresas estrangeiras em investir no país.

“A gente fazendo o nosso dever de casa fiscal, passando essa mensagem de responsabilidade, conduzindo a política monetária de forma vigilante e com cautela, acho que a gente tem se diferenciado”, disse.

“Acho que o fluxo tende a se intensificar”, afirmou, ressaltando que o real está entre as moedas com o melhor desempenho neste ano e que o Brasil talvez seja o único país das Américas com mão de obra farta e energia barata.

Na análise do cenário global, o presidente do BC avaliou que o combate à inflação nos Estados Unidos será mais difícil do que no Brasil porque o país tem um problema crônico de mão de obra.

Campos Neto disse ainda que o desempenho econômico da China é uma grande incógnita, com influência sobre os rumos globais. Para ele, se o país asiático registrar crescimento anual abaixo de 3% poderá haver um efeito maior sobre a atividade de países emergentes.

Na apresentação, ele ainda disse que não aceitaria uma recondução ao cargo de presidente do BC por mais um mandato e ressaltou ter se posicionado contra essa possibilidade, incluída na lei de autonomia do Banco Central. O atual mandato de Campos Neto se encerra em dezembro de 2024.

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