Pesquisadores estudam odores das múmias pela 1ª vez

MILÃO, 14 FEV (ANSA) – Por Elisa Buson – Pesquisadores analisaram pela primeira vez o penetrante aroma liberado pelas múmias egípcias, chamado por alguns de “perfume da eternidade” e que durante séculos encantou arqueólogos e restauradores com suas notas doces, amadeiradas e de especiarias.   

Fruto da combinação de óleos, ceras e resinas utilizados para embalsamar corpos no Antigo Egito, bem como do crescimento de mofos e bactérias, o odor foi estudado mediante técnicas químicas e sensoriais por um grupo internacional coordenado pelas universidades de Ljubljana, na Eslovênia, College, de Londres, e de Cracóvia, na Polônia, que publicaram os resultados na revista da Sociedade Química Americana.   

A italiana Emma Paolin, doutoranda em química analítica na Universidade de Ljubljana e primeira signatária do estudo, disse que analisar o aroma das múmias “nos ajuda a ter um quadro mais rico e detalhado dessa antiga cultura”. “Os egípcios prestavam grande atenção no odor do corpo do defunto, do qual tentavam eliminar qualquer aspecto desagradável a fim de que se apresentasse no melhor dos modos ao deus Anúbis [divindade dos mortos] no além”, acrescenta.   

Para entender se esse “odor da imortalidade” ainda estaria presente após séculos e sua evolução no tempo, foi realizado um estudo no Museu Egípcio do Cairo em nove corpos de homens e mulheres mumificados entre os séculos 13 a.C. e 3 d.C. Quatro múmias estavam expostas ao público, e cinco eram mantidas em depósitos.   

“Coletamos amostras do ar presente nos sarcófagos e nas caixas de vidro das exposições e as analisamos com um cromatógrafo a gás [instrumento que separa compostos voláteis], combinado com um espectrômetro de massa [que identifica e quantifica substâncias químicas] e um detector olfativo”, disse Paolin.   

“Os resultados nos permitiram categorizar quimicamente os odores com base em sua origem, remetendo-os aos materiais de mumificação originais, pesticidas sintéticos para conservação, óleos essenciais protetivos e produtos de deterioramento microbiológico”, acrescentou.   

Os resultados demonstraram que os mais recentes tratamentos de conservação das múmias não produziram efeitos significativos nos aspectos olfativos e que o odor está fundamentalmente ligado aos processos de embalsamação.   

Capturar e conservar esse aroma para as gerações futuras é um dos objetivos do projeto internacional Odotheka, que as universidades de Ljubljana e Londres conduzem há três anos para criar um arquivo de odores ligados a bens culturais, como livros antigos e pinturas.   

No futuro, o time de pesquisa tentará reproduzir o aroma das múmias para permitir a montagem de percursos olfativos nos museus. (ANSA).