Pesquisadores brasileiros identificam HPV em Ötzi, o ‘homem de gelo’

MILÃO, 24 DEZ (ANSA) – A lista de problemas de saúde sofridos por Ötzi, homem que viveu há mais de 5 mil anos nos Alpes, na fronteira entre Itália e Áustria, continua aumentando: além de fraturas ósseas, parasitas intestinais, cáries, colesterol alto e intolerância à lactose, ele provavelmente também foi infectado pelo papilomavírus humano HPV16, uma cepa responsável por muitos cânceres genitais e de garganta.   

Traços do vírus foram encontrados em material genético extraído da múmia, bem como nos restos mortais de outro indivíduo conhecido como Ust-Ishim, um Homo sapiens que viveu há aproximadamente 45 mil anos na Sibéria Ocidental.   

O estudo, conduzido por biólogos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foi compartilhado na plataforma bioRxiv e aguarda revisão por pares.   

Se os resultados forem confirmados, poderão preencher uma lacuna na história evolutiva desses vírus oncogênicos, demonstrando que sua coexistência com os humanos remonta à Antiguidade.   

“Temos a evidência mais antiga de HPV”, afirmou a bioinformática Juliana Yazigi, primeira autora do estudo. Os vírus identificados parecem ser muito semelhantes ao tipo de HPV que um estudo anterior indicou ter se originado nos neandertais.   

Para estar presente em Ötzi e Ust-Ishim, indivíduos separados por aproximadamente 40 mil anos e 5 mil quilômetros, essa variante deve ter circulado em nossa espécie por um longo período. Tanto tempo, aliás, que é mais provável que o Homo sapiens tenha transmitido o HPV16 aos neandertais, e não o contrário.   

“É uma descoberta muito interessante”, comenta o geneticista Ville Pimenoff, da Universidade de Oulu, na Finlândia, que não participou diretamente do estudo, em entrevista à revista Science. “O Homo sapiens foi essencialmente infectado por esses vírus ao longo de toda a sua existência”, acrescentou.   

Ötzi, apelidado de “homem de gelo”, foi encontrado naturalmente mumificado em uma geleira na fronteira ítalo-austríaca em 1991. Um estudo publicado em 2023 por pesquisadores de Itália e Alemanha indicou que o indivíduo tinha pele escura e tendência à obesidade, sofria de calvície e possuía antepassados da Anatólia, região que corresponde à atual Turquia. (ANSA).