A pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo) Larissa Mies Bombardi escreveu uma “carta aberta” de sete páginas na qual explica que decidiu sair do Brasil devido a intimidações por suas pesquisas envolvendo agrotóxicos. As informações são do UOL.

Larissa conta que passou a ser intimidada após a publicação na Europa, entre abril e maio de 2019, da versão em inglês do atlas “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia”.

O Atlas, que já havia sido publicado em português em 2017, detalha o uso de agrotóxicos em cada região e estado brasileiro, traz dados de morte por intoxicação em cada local, quais países europeus importam produtos brasileiros com agrotóxicos e expõe a presença de resíduos agrotóxicos nos alimentos e água potável em comparação com o limite europeu.

Na carta, a pesquisadora diz que, em junho de 2019, foi alertada por lideranças de movimentos sociais para que “evitasse os mesmos caminhos, para que eu alterasse os meus horários, para que alterasse a minha rotina, de forma a me proteger de possíveis ataques de setores econômicos envolvidos com a temática sobra a qual eu me debruço”, conta a professora.

Ainda de acordo com o UOL, a pesquisadora conta que no mesmo mês recebeu outras intimidações sobre seu trabalho, “especialmente após a maior rede de supermercados orgânicos da Escandinávia ter boicotado os produtos brasileiros, a partir do conhecimento do Atlas, lançado no mês anterior em Berlim”.

Larissa planejava deixar o Brasil em março de 2020, mas adiou por conta da pandemia de Covid-19. Em agosto do ano passado, ela teve sua casa assaltada e levaram seu computador. A princípio, ela não suspeitou que o assalto pudesse ter ligação com seu trabalho, mas após o questionamento de um parente, passou a cogitar a possibilidade.

A partir daí, ela pediu afastamento da USP. Larissa diz que recebeu novas intimidações após a publicação de artigos sobre a “correspondência espacial entre a suinocultura e Covid-19”.

Em nota, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, onde o Departamento de Geografia se localiza, repudiou as intimidações sofridas pela professora.

“A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, através de sua direção, repudia qualquer tipo de constrangimento, intimidação, ameaça, ataque que a professora Larissa Mies Bombardi, do Departamento de Geografia, passou a sofrer devido ao tema de suas pesquisas. Pois, a faculdade defende a liberdade de cátedra e de expressão, que devem estar presentes em uma sociedade democrática, republicana e que valoriza a ciência.”

Segundo a nota, o pedido de afastamento da professora ainda não chegou oficialmente às mãos da diretoria da faculdade, por isso a Universidade ainda não pôde se manifestar. Larissa, que é graduada, mestre, e doutora em geografia pela USP e pós-doutora pela Universidade Federal Fluminense, começará em abril os estudos na Universidade Livre Bruxelas, onde conquistou uma bolsa.