Estudo do grupo de pesquisa Álcool, Drogas e Violência da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) avaliou a associação existente entre o consumo de álcool e as mortes violentas na cidade de São Paulo, e sua relação com sexo, idade, causa de morte e concentração de álcool no sangue – chamada de alcoolemia – das vítimas.

Os resultados da pesquisa Consumo de Álcool e Mortes Violentas na Cidade de São Paulo em 2015, que foi o ano mais recente com dados disponíveis, revelam que a associação entre consumo de álcool e acidentes de trânsito com morte foi a mais significativa. Em 32% dos casos de mortes decorrentes de acidente de trânsito, a vítima havia ingerido álcool. Em segundo lugar, ficaram os homicídios, com 30,5% das vítimas sob efeito de álcool.

A partir da coleta de dados nos arquivos do Instituto de Medicina Legal do Estado de São Paulo, foram identificadas 2.882 vítimas de mortes violentas na capital paulista, no ano de 2015, e que foram submetidas ao exame de concentração de álcool no sangue na autópsia. A idade média das vítimas era 33 anos e a maioria era de homens – 2.425 – o correspondente a 84% da amostra.

O álcool foi detectado nas amostras de sangue de 780 vítimas, sendo 27% do total, com concentração média de 1,92 gramas de álcool por litro de sangue. Os pesquisadores ressaltam que esse índice corresponde a cerca de três vezes ao que criminaliza um motorista pego dirigindo sob efeito de álcool (0,6 g/l). Considerando as 780 vítimas, nove em cada dez eram homens.

“Entre o total de 2.882 vítimas da amostra, o homicídio foi a causa de morte mais prevalente na amostra [1.054 vítimas, ou 37% do total]. Os acidentes de trânsito corresponderam a 20% dos casos [581 vítimas], os suicídios a 15% [427 vítimas] e outras causas de mortes acidentais, tais como quedas, afogamento, eletroplessão, intoxicação, entre outros, corresponderam a 28% dos casos [820 vítimas]”, disse o pesquisador Raphael Eduardo Marques Gonçalves.

Quando consideradas as proporções das vítimas que ingeriram álcool, e considerando a causa da morte, o estudo verificou que 30,5% (322) das vítimas de homicídio tinham ingerido álcool. No entanto, entre as vítimas de acidentes de trânsito, a proporção chegou a 32%, a mais significativa dentro das associações do álcool com mortes violentas. Nos suicídios, a proporção é de 26% e, nas outras causas de mortes acidentais, de 20%.

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“A associação do consumo de álcool foi mais forte entre as vítimas de acidentes de trânsito. Mais além, entre as vítimas de acidentes de trânsito a quantidade de álcool consumido também foi maior”, disse Gonçalves.

A faixa de alcoolemia prevalente entre as vítimas do estudo foi de 0,6 a 1,5 gramas de álcool por litro de sangue, observada em 292 casos, ou seja, 37,44% das 780 vítimas que consumiram álcool. Esta foi também a faixa prevalente entre as vítimas de homicídio, observada em 136 dos casos, o que corresponde a 42,24% das vítimas de homicídios que ingeriram álcool; entre os que consumiram suicídio (44 casos, correspondendo a 40%) e também nas outras mortes acidentais (52 casos, ou seja, 32,1%).

Já a faixa de alcoolemia prevalente para o grupo de vítimas de acidentes de trânsito foi acima dessa média, atingindo de 1,6 a 2,5 gramas de álcool por litro de sangue. Ou seja, em 87 casos, o que corresponde a 46,77% das vítimas, elas se enquadravam nessa faixa maior de consumo de álcool. “Conclui-se, portanto, que os resultados obtidos neste estudo sustentam uma potencial associação entre consumo de álcool e mortes violentas na cidade de São Paulo, principalmente em vítimas de acidentes de trânsito”, afirmou Gonçalves.


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