Um total de 76% dos russos votaram a favor da reforma da Constituição que reforçará o poder do presidente Vladimir Putin, de acordo com uma pesquisa publicada nesta segunda-feira (29), quando ainda faltam três dias para o fim do referendo.
A votação começou em 25 de junho e prossegue até 1 de julho, com o objetivo de dispersar o fluxo de eleitores, no âmbito da luta contra a pandemia de coronavírus.
Mas nesta segunda-feira o instituto Vtsiom anunciou uma pesquisa que aponta a vitória do ‘Sim’ com 76% dos votos, contra 23,6% de votos para o ‘Não’ e 0,4% de brancos ou nulos.
A pesquisa foi organizada entre 25 e 28 de junho – ou seja durante quatro dos sete dias de votação – em 25 regiões e entrevistou mais de 163.000 pessoas.
Pouco mais de 70% das pessoas consultadas aceitaram responder a pesquisa.
O instituto Vtsiom justificou a decisão de publicar os resultados antes do fim da votação pela “forte demanda” deste tipo de informação e negou que os dados terão um efeito no resultado.
“Não está proibido pela lei publicar pesquisas”, afirmou o diretor do instituto Vtsiom, Valéri Fiodorov, à AFP. “E se não está proibido pela lei, de que pressão (sobre o processo eleitoral) se trata?”, questionou.
A presidente da Comissão Eleitoral Central, Ella Pamfilova, lamentou a publicação.
“Infelizmente, a lei não regulamenta e não temos nenhuma maneira de proibir””, declarou à rádio Business FM.
A reforma da Constituição já foi aprovada no Parlamento, mas Putin quis organizar uma votação popular, algo que, no entanto, não tem força legal.
A oposição russa considera o referendo uma farsa eleitoral para que Putin permaneça no poder pelo resto da vida.
A reforma constitucional sobre a qual os russos devem se pronunciar permitirá a Vladimir Putin continuar no poder até 2036, mas a oposição, com exceção de tímidos pedidos de boicote ou críticas, não conseguiu lutar contra o projeto.
Os opositores russos repetem a denúncia de farsa e destacam, por exemplo, que cópias da Carta Magna já modificada estão à venda nas livrarias.
Dos liberais aos comunistas, as críticas ao projeto são numerosas, mas a oposição não conseguiu formar uma frente comum para combater a reforma.
O principal opositor do Kremlin, Alexei Navalny, que no ano passado organizou grandes manifestações em Moscou a favor de eleições livres, também mostrou pouco interesse.
Analistas afirmam que as profundas divisões na oposição e os truques do Kremlin impediram um combate sério ante os ambiciosos planos de Vladimir Putin.