FRONTEIRA Cerca de 300 mil brasileiros tentam entrar nos EUA
de forma legal e ilegal (Crédito:Istockphoto)

Amanhã fria e nebulosa da terça-feira, 26, não foi um empecilho para os irmãos Victor Pavan Dias, 23 anos, e Paloma Pavan Dias, 25 anos, realizarem um grande sonho. Os dois saíram do interior de São Paulo, às 4h30 da madrugada, para chegar às 08h00 no Consulado dos Estados Unidos em São Paulo. Ambos estavam com entrevistas agendadas para tirar o visto de estudante — categoria considerada prioritária ao consulado e que não foi suspensa em meio à pandemia de coronavírus. Os irmãos já haviam pagado a matricula de um curso de inglês em San Diego e permaneceriam em solo americano durante um mês para aprender inglês. “Tivemos sorte, como estamos indo estudar, ficamos apenas um mês esperando uma data para a entrevista”, afirma Victor animado. Porém, a alegria durou pouco. Tanto ele quanto a irmã tiveram os vistos negados. Os agentes americanos entenderam que, pelo pouco tempo de permanência, os dois não iriam estudar, e sim fazer turismo. É apenas um exemplo do drama de cerca de 300 mil brasileiros que tentam entrar nos Estados Unidos de forma legal e ilegal.

Após fechar o consulado em maio de 2020 devido a pandemia, o governo americano decidiu suspender por tempo indeterminado a emissão de visto para brasileiros. Isso causou uma fila de espera sem precedentes — apesar do consulado não confirmar o número que cresce todos os dias, estima-se que mais de 250 mil brasileiros estejam esperando vagar um dia e horário para fazer a temida entrevista que garante a entrada nos EUA. E precisa ser paciente, pois não há vagas até dezembro de 2022. Antes da pandemia, o processo entre o agendamento e a entrevista durava em média 15 dias, agora, quem deseja viajar ao país americano e precisa obter ou renovar o documento, necessita aguardar cerca de 1 ano e 2 meses — com exceção dos NIE (Exceção de Interesse Nacional), que são: estudantes, acadêmicos, jornalistas e pessoas com emergências humanitárias, como por exemplo, uma operação de alto risco que precisa ser feita nos Estados Unidos, ou o falecimento de um ente querido em território americano. Estes casos específicos não precisam ficar na fila de espera, mas cada caso é analisado em detalhes pelo consulado e os solicitantes podem demorar um mês para serem chamados.

Brasileiros frustrados

Apesar do consulado ter liberado algumas vagas para o final deste ano na tímida tentativa de aliviar a demanda reprimida, na manhã de quarta-feira, 27, a embaixada emitiu um comunicado informando que todos os vistos, sem exceções, começarão a ser emitidos a partir do dia 08 de novembro, juntamente com a abertura das fronteiras americanas para os brasileiros, o que, em tese, suspenderia os NIE. Porém, nos bastidores, estudantes que estiverem indo aos EUA para fazer um curso de longa duração, como um mestrado, ou brasileiros que precisem viajar em razão de emergências continuarão a ter prioridade. Vistos para turismo ainda serão colocados em segundo plano. “Durante as primeiras semanas de retomada pedimos paciência aos brasileiros, pois ainda estamos em uma pandemia. Os tempos de espera vão ser frustrantes, sabemos disso, e estamos fazendo o possível para diminui-lo”, afirma a adida de comunicação do consulado americano, Natália Molano.

DRAMA O estudante Victor Pavan Dias não conseguiu o visto, pois o consulado entendeu que ele iria fazer turismo (Crédito:wanezza)

Não é apenas na espera do agendamento de entrevistas para vistos que o Brasil protagoniza um momento de terror histórico, mas também nas fronteiras terrestres. Cerca de 57 mil brasileiros foram detidos na fronteira do México com os Estados Unidos de forma ilegal no ano fiscal de 2021 (que vai de 1º de outubro de 2020 a 30 de setembro de 2021) — um aumento de 700% em relação ao mesmo período de 2020 — batendo o recorde histórico de 2019 quando 18 mil brasileiros colocaram suas vidas em risco tentando atravessar a divisa ilegamente. O Brasil já é a sexta nação com o maior número de imigrantes detidos pelas autoridades americanas na fronteira sul do país. “Isso está fazendo um mal absurdo para a comunidade brasileira que vive nos Estados Unidos. Virou um caos”, revela o advogado especialista em direito internacional, Daniel Toledo, que mora em Houston, no Texas, há dois anos. “Os próprios brasileiros estão denunciando os ilegais para as autoridades. Está parecendo uma grande invasão dos sem terra”, explica. O advogado especializado em imigração diz ainda que a pandemia não é o verdadeiro motivo do consulado americano estar sem datas disponiveis para o agendamento de vistos, mas sim a entrada sem controle de brasileiros de forma legal que acabam permanecendo irregularmente no país. “É irreal todas as vagas estarem preenchidas até dezembro de 2022. Eles apenas decidiram fechar a agenda e não marcar entrevistas com ninguém.”, conclui o advogado.