As sirenes de ataque aéreo são acionadas enquanto as atletas do nado artístico Maryna e Vladyslava Aleksiiva descansam em seu único dia de folga em Kharkiv, na Ucrânia. O rigoroso calendário de treinos das irmãs gêmeas foi preparado com o objetivo de levá-las aos Jogos Olímpicos de Paris, em 2024.

Vencedoras da medalha de bronze nos Jogos de Tóquio-2020, disputados em 2021 devido à pandemia de covid, as irmãs passaram a treinar nesta grande cidade do noroeste do país, apesar da proximidade com o front e dos bombardeios frequentes.

Após a invasão russa, a seleção ucraniana se transferiu para a Itália, posteriormente para Kiev e, por fim, retornou a Kharkiv, onde a situação é mais tensa que na capital, mas onde vivem seus parentes e amigos.

“Às vezes, durante os alertas (de ataques) aéreos, nos preocupávamos um pouco com o que estava acontecendo. Sentimos que é uma guerra”, disse Vladyslava.

“Houve muitos bombardeios no inverno (verão no Brasil) do ano passado. Veremos o que acontece. Mas, por enquanto, ficaremos em Kharkiv”, completou.

– Alerta “comum” –

A equipe de nado artístico espera obter a classificação para os Jogos Olímpicos do ano que vem, que acontecerão em menos de nove meses.

“É realmente o momento mais importante de nossas vidas”, disse Vladyslava, sentada ao lado de Maryna, no apartamento desta última.

O edifício onde fica localizada a piscina de treino em Kharkiv foi danificado em setembro por um míssil russo e os vidros partidos das janelas ainda não foram substituídos. Também não há gerador em caso de falta de aquecimento central, mas a piscina permanece intacta.

“A água está quente”, afirma Maryna. “Podemos treinar o tempo que quisermos”, acrescenta Vladyslava.

As irmãs contam, entretanto, que é “comum” ouvir cinco ou seis sirenes por dia, inclusive à noite. Quando tocam durante o treinamento e ouvem explosões, as atletas correm “para o porão”, mesmo com seus maiôs ainda molhados.

– “Loteria” –

As irmãs começaram no esporte ainda na infância e desde cedo já colecionam medalhas.

“Desde que entraram na piscina e as vi, tinha certeza de que seriam futuras estrelas porque já eram grandes para sua idade, magras, com uma postura bonita, uma forma bonita e pernas longas”, lembra a treinadora Maryna Krykunova, que hoje desenha seus maiôs.

O Comitê Olímpico Internacional (COI) ainda não tomou uma decisão final sobre a participação dos russos na competição.

“Ainda não enfrentamos a seleção russa desde o início da guerra e esperamos nunca mais vê-la”, denuncia Maryna Aleksiiva.

Mas há outro fator que preocupa diante da concorrência. O nado artístico conta com um novo sistema de pontuação que em tese deveria promover maior objetividade, focando menos no desempenho artístico e mais na execução técnica.

Para Krykunova, é uma “loteria”. Já Maryna Aleksiiva diz que a novas regra “parece muito pouco artística e infeliz”, acrescentando que teme que os piores times possam vencer.

“Devemos fazer tudo, o possível e impossível, para que os juízes reajam a todos os elementos que incluímos no nosso programa, para que tudo seja perfeito. Faremos tudo o possível para conseguir isso”, afirma Vladyslava.

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