“Olá, piercerlovinho!”. É assim que Ilana Govinatzki começa seus vídeos no TikTok. Com 860 mil seguidores na plataforma, a gaúcha ficou conhecida por tirar dúvidas sobre perfurações, alertar dos perigos de recorrer a “profissionais” da área que não adotam procedimentos seguros e mais um monte de conteúdo relacionado ao mundo da modificação corporal

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Com 33 anos de idade e mais de 9 na profissão de piercer, Ilana atinge adultos e adolescentes com seus vídeos educativos e divertidos. E sempre traz à tona um assunto muito polêmico que virou discussão nas redes sociais após um vídeo da influenciadora Virginia Fonseca: perfurar ou não os lóbulos de recém-nascidas?

A prática é comum no Brasil, mas aos poucos vem perdendo adeptos. Além de profissional do piercing, Ilana é graduanda em enfermagem. Em conversa com a IstoÉ revelou que, além de essa prática ser um trauma para o bebê, o primeiro furo também pode trazer riscos fisiológicos para um recém-nascido. 

“Perfurar a orelha de recém-nascidas pode provocar desde trauma, risco de infecção, até o desenvolvimento de alergias a metais, uma vez que pode ocorrer a sensibilização do tecido caso o material não seja biocompatível. A longo prazo, temos também a possibilidade de as perfurações ficarem assimétricas, já que o lóbulo está em desenvolvimento, e o bebê pode dormir sobre o local com frequência, causando alterações na inclinação do furo”, afirma. 

Para contornar questões como essas, alguns profissionais prometem oferecer procedimentos “humanizados”, mas Ilana diz que o profissional do bodypiercing não usa essa nomenclatura por um motivo específico. “‘Furo humanizado’ é um termo fortemente utilizado para exemplificar a promoção de conforto no procedimento. No geral, a maioria dos piercers não utiliza esse termo, pois um procedimento correto de piercing já tem por característica promover conforto e segurança.”

De acordo com ela, o ideal é não perfurar a orelha do bebê, mas deixar que, no futuro, ele escolha se quer esse acessório. “Se mesmo assim for de vontade dos pais, que seja feito por um profissional da área. Hoje em dia, além de piercers, temos outros profissionais que fazem a capacitação para aplicação de maneira correta. Um perfurador, além de conhecimento sobre fisiologia e cicatrização, entende todos os protocolos de biossegurança e controle de infecções, o que garante um procedimento seguro para o bebê”, acrescenta a piercer. 

Deixar que a criança escolha se quer perfurar o lóbulo – o que no Brasil é permitido em menores de 18 anos com a presença dos pais ou responsáveis – tem benefícios não só de se tornar um adorno bonito e simétrico feito por vontade própria da criança, mas também abre espaço para assuntos mais sérios de forma sutil.

“Além da garantia que a escolha foi dela, garante também a melhor simetria, cicatrização – já que ela vai poder cuidar melhor -, e traz o diálogo sobre consentimento”, explica. “Ensina que a criança é um indivíduo com vontades e capaz de tomar decisões sobre o próprio corpo”, adiciona Ilana. 

“Pela minha vivência pessoal, promove um momento único, uma vez que ao invés de um bebê irritadiço ou choroso, você vai participar de uma experiência de empoderamento de uma menina. Deixá-la escolher traz tudo isso, e só quem já assistiu os pais e filhas nesse momento entenderia como é maravilhoso”, completa. 

Pensando na hora da aplicação, a bodypiercer relembra algumas coisas importantes para você saber na hora de escolher realizar esse procedimento, seja no bebê, na criança, ou em você. “Um profissional do piercing tem que trabalhar de forma asséptica, isso significa minimizar qualquer risco de infecção. Hoje temos agulhas próprias para a prática de perfurações corporais, e elas recebem selo da Anvisa.”

“Também utilizamos materiais próprios e para procedimento seguro. É necessário que o profissional saiba como utilizá-los e como executar o procedimento.” Por mais óbvio que pareça, “saber o que está fazendo” não é comum no Brasil, pois segundo Ilana a profissão de bodypiercer não é totalmente regulamentada no país. “Isso abre espaço para muitos procedimentos feitos no achismo, e ainda para que profissionais de outras áreas da saúde achem que o título traz a experiência profissional do piercing”, completa. 

Para finalizar, a gaúcha deixa claro que nenhum bodypiercer pode usar anestésico, pomada ou medicamento em seus clientes. “É importante frisar que não utilizamos aplicadores e que não somos habilitados para utilizar anestésico tópico ou injetável. Além disso, não temos habilitação para indicar pomadas e demais medicações.”

Já de acordo com Vanessa Mouawad, pediatra neonatologista da Maternidade Pro Matre, Hospital Albert Einstein e Hospital São Luiz, não existe um consenso entre os pediatras sobre a idade correta para aplicação de brinco em bebês. “Eu sigo o que a sociedade brasileira de pediatria preconiza que é furar a partir de 15 dias de vida”, diz a médica.

Assim como Ilana, Vanessa acredita que se o procedimento for da vontade dos pais, que seja feito de forma segura. “Antigamente o furo era feito até nas maternidades, durante a internação do bebê. Hoje em dia não mais, já que há um maior risco de infecção, pois hospital é um ambiente mais contaminado”, explica. “Falando de forma técnica, não há nada que contra indique que uma criança saudável tenha o lóbulo de orelha furado, contanto que se respeite a técnica correta de realização.”