O diretor de Fiscalização do Banco Central, Paulo Souza, avaliou nesta terça-feira, 17, que a recuperação do crédito às famílias foi “tímida” no primeiro semestre ano, mas destacou que já há uma maior disposição à retomada desses financiamentos nos últimos três meses. “Já há uma melhora no crédito nesse segmento do crédito”.

Em coletiva de imprensa sobre o Relatório de Estabilidade Financeira (REF), Souza disse ainda que a crise financeira internacional mostrou ao mundo a importância da estabilidade do setor. “Um projeto de novo arcabouço de resolução para salvamento de bancos pelo BC vem dentro de melhores práticas internacionais”, afirmou.

O diretor lembrou que, em outros países, chegou a ser necessário que os governos injetassem recursos nas instituições financeira. “O projeto de resolução é para, caso aconteça uma crise, não se use recursos públicos com essa finalidade”, completou.

Carteira de crédito

Souza avaliou que a carteira de crédito para pequenas e médias empresas vem declinando nos últimos anos, enquanto se manter um porcentual de ativos problemáticos nessas carteiras. Segundo ele, porém, quando houver retomada de crédito para esses segmentos, o perfil dessa carteira irá melhorar.

“Quando houver um cenário de estabilidade, os bancos terão que voltar a conceder crédito para as pequenas e médias empresas. A tendência é que o nível de ativos problemáticos nessa carteira diminua”, afirmou.

Segundo ele a carteira de crédito de grandes corporações também vem caindo. “Mas o banco conseguirá um melhor nível de risco de operação quando a situação dessas empresas melhorar”, completou.

Souza disse ainda que a regra prudencial do BC tem se mostrado adequada em relação aos níveis de provisões dos bancos. “Esse patamar de provisão tende a se reduzir desde que risco de empresas e famílias caiam”, respondeu.

Concentração

Para ele, a questão da alta concentração bancária no Brasil pode melhorar a partir do momento que a economia melhore e as empresas de pequeno e médio porte possam obter crédito junto aos bancos menores. “Quando houver uma melhoria de ambiente para bancos menores, a concorrência pode melhorar”, afirmou.

Souza voltou a dizer que o cadastro positivo pode favorecer concorrência. “E em um cenário com uma taxa estrutural e de longo prazo mais baixa, as famílias e empresas terão o benefício de um cenário mais perene de inflação e taxas mais baixas”, completou.

Crise e concentração bancária

O diretor de Fiscalização do Banco Central avaliou também que a concentração bancária no Brasil ocorre porque as instituições que deixaram o País não conseguiram ter sucesso ao concorrer no mercado nacional. “Houve uma crise financeira internacional significativa e essa questão da concentração não impacta apenas o mercado brasileiro. Estamos ainda em situação favorável em relação a outras economias”, afirmou.

Segundo ele, a existência de dois grandes bancos públicos, dois grandes bancos privados nacionais e um grande banco estrangeiro traz um equilíbrio para o sistema. “Visualizamos uma melhoria na concorrência com inovações tecnológicas em determinados nichos de mercado”, completou.

Para Souza, instrumentos que estão sendo propostos pela autoridade monetária, como o cadastro positivo, podem fazer com que taxas de juros caiam.

Questionado sobre o fato de os bancos começarem a retomar imóveis devido à inadimplência dos mutuários, o diretor avaliou que a há uma dificuldade natural das pessoas em função do quadro recessivo, mas disse acreditar que essa situação melhore nos meses adiante.

Compulsório

Ao ser questionado sobre compulsórios no Sistema Financeiro Nacional (SFN), Souza afirmou que a retomada da economia pode influenciar as discussões sobre estes níveis. “O nível de liquidez do sistema é significativo. A partir do momento em que houver uma retomada, isso tem que ser convertido em empréstimo financeiro, em crédito”, comentou. “Vai chegar um momento em que você tem, de fato, um cenário mais favorável de crescimento, e o compulsório será mais bem discutido. Com certeza, também terá impacto favorável ao próprio crédito final aos tomadores”, acrescentou.

Basileia III

O diretor de Fiscalização do Banco Central avaliou que, apesar do cenário de crise, os bancos brasileiros estão em posição confortável para atender todas as regras de Basileia III. “As instituições estão inclusive bem posicionadas para cumprirem os requerimentos que serão exigidos a partir de 2019”, completou, ao comentar o REF divulgado pelo BC.

Souza destacou que os teste de estresse feitos pelo BC demonstram que, mesmo em um cenário de estresse severo com condições macroeconômicas desfavoráveis, o impacto sobre os bancos seria menor do que vinha sendo observado. “Hoje os resultados desses choques seriam mais benignos do que foram no passado. O próprio resultado dos bancos seria suficiente para absorver esses choques”, afirmou.

Os testes de sensibilidade para o risco de crédito e para o risco específico do crédito imobiliário mostram que esses cenários também exigiriam pouco reforço de capital às instituições.

O diretor citou que também continua baixo o risco dos bancos nos teste de estresse que consideram possíveis impactos da Operação Lava Jato e nas simulações que colocam eventuais problemas de insolvência de Estados e municípios.