A China expressou “firme oposição” às sanções dos Estados Unidos contra cinco entidades chinesas acusadas de facilitar o tráfico de opioides sintéticos, responsáveis por um número recorde de mortes por overdoses nos Estados Unidos.
O presidente Joe Biden decidiu na quarta-feira endurecer o regime de sanções dos Estados Unidos contra os narcotraficantes internacionais, na China, assim como no Brasil e México.
As primeiras medidas são aplicadas contra um narcotraficante chinês e quatro empresas do país acusadas de participar na produção ilegal de fentanil para o mercado americano.
O fentanil é um potente opioide sintético que é utilizado na medicina, mas que também pode ser usado como droga.
“O presidente Joe Biden está tomando medidas decisivas para detectar, desbaratar e reduzir o poder das organizações criminosas transnacionais com dois decretos executivos”, afirma um documento do governo.
Um deles estabelece um novo organismo, o Conselho dos Estados Unidos para o Crime Organizado (USCTOC, na sigla em inglês), que será integrado por representantes de diversos organismos governamentais.
O outro decreto impõe um regime de sanções mais amplas contra os atores internacionais do narcotráfico, que poderão ter congelados seus ativos nos Estados Unidos, impedi-los de entrar no país e de realizar certas transações.
No âmbito do novo regime de sanções, o Departamento do Tesouro anunciou uma série de alvos na China, mas também no Brasil e México.
Na China uma pessoa, Chuen Fat Yip, é acusada de comandar o tráfico de drogas sintéticas entre o país asiático e nos Estados Unidos, assim como quatro empresas: Wuhan Yuancheng Gongchuang Technology, Shanghai Fast-Fine Chemicals, Hebei Huanhao Biotechnology e Hebei Atun Trading.
– “Incriminar” outros –
“É muito simples, muitas das matérias-primas para a fabricação de opioides sintéticos vêm da China. E era importante transmitir uma mensagem forte”, explicou um alto funcionário do governo americano que pediu para ter sua identidade em sigilo.
Pequim expressou surpresa com as sanções e afirmou que tem “tolerância zero” com as drogas. As autoridades chinesas afirmam que já fizeram muito para frear o tráfico de fentanil e acusam os Estados Unidos de falta de rigor.
“A China se opõe com veemência a esta forma de agir dos Estados Unidos que não é construtiva”, disse Wasng Wenbin, porta-voz do ministério das Relações Exteriores.
“Pedimos ao governo dos Estados Unidos que respeite os fatos e que investigue as razões do uso indevido de fentanil em seu território. E que julgue os esforços da China com objetividade, em vez de incriminar outros países”, destacou.
A China endureceu as legislação em 2019 ao incluir todos os tipos de fentanil em sua lista de substâncias controladas.
– Mais de 100.000 mortes –
No Brasil, as novas sanções dos Estados Unidos serão aplicadas contra o Primeiro Comando da Capital (PCC), “um dos grupos do crime organizado mais poderosos do país e do mundo, que negocia sobretudo com drogas, mas também está envolvido em lavagem de dinheiro, extorsão e homicídios por encomenda”.
No México, os alvos são os grupos criminosos ‘Los Rojos’ e ‘Guerreros Unidos’.
Ambos entram para a lista de uma série de redes e narcotraficantes do México e da Colômbia que já foram punidos desde 1995 e 1999.
Entre abril de 2020 e abril de 2021, o governo dos Estados Unidos contabilizou 100.306 overdoses fatais de drogas, o que representa um aumento de 28,5% na comparação com o mesmo período do ano anterior (78.056 mortes).
Esta é a primeira vez que o país supera a marca simbólica de 100.000 mortes em um ano, o que significa um óbito a cada cinco minutos.
O fentanil não é necessariamente ilegal e pode ser utilizado como sedativo para os pacientes com câncer que sofrem com muitas dores.
Mas os laboratórios chineses são suspeitos de fornecer aos narcotraficantes, principalmente mexicanos, substâncias que permitem a produção de fentanil, às vezes falsificando documentos alfandegários.
Este tráfico acontece na maioria das vezes pela internet e os pagamentos são feitos em muitas oportunidades em criptomoeda, o que dificulta o trabalho dos investigadores.