Não se pode perder tempo. A Covid-19 ainda é uma ameaça para humanidade, tanto assim que a China, nação que melhor combateu o novo coronavírus, voltou a adotar o confinamento para conter um novo surto de contaminações na cidade de Wuhan, adiando inclusive a maratona internacional que aconteceria no fim da semana passada. No momento, a comunidade científica mundial indica que se deve ampliar a vacinação a crianças. Por isso, os países que têm imunizantes, já estão se preparando para isso. O gigante asiático, que já imunizou mais de um bilhão de pessoas (76% da população adulta), vai valer-se da CoronaVac e da Sinopharm os pequenos três a onze anos.

Além da China, cuidados com crianças em meio à pandemia já é uma realidade em outras partes do mundo. Em Cuba, bebês de dois anos estão sendo vacinados com a Soberana. O Chile e a Argentina também utilizam as chinesas CoronaVac e a Sinopharm, nos Emirados dos Árabes Unidos, a partir dos três anos, a vacina pode ser aplicada. Os EUA, país com larga experiência em imunizantes, colocarão em prática uma campanha para vacinar 28 milhões de crianças de cinco a onze anos, já que a substância da Pfizer, utilizada em adultos, foi avaliada positivamente pelo comitê consultivo da FDA, a agência norte-americana reguladora de medicamentos e alimentos. A farmacêutica Moderna, também em uso para pessoas com mais quatorze anos, pleiteia permissão para imunizar crianças. A empresa fez testes com quatro mil e setecentos pequenos, e excelente resposta imunológica veio um mês após a aplicação da segunda dose. Seguindo a tendência, a União Europeia também está vacinando. No Brasil, a Pfizer divulgou que enviará a documentação necessária a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para alcançar a permissão de uso, mas não há definição exata de quando a criançada será contemplada. Deve ficar para 2022.

Pontos positivos

A Pfizer finalizou os estudos no início de outubro com um total de dois mil duzentos e cinquenta participantes, e, para conquistar a aprovação, o laboratório informou a FDA que o seu produto é plenamente seguro e alcançou 90,7% de eficácia na prevenção ao Sars-Cov-2 nessa faixa etária. A vacina foi administrada em menor dose durante a pesquisa — dez microgramas, o que equivale a um terço da quantidade tomada por adolescentes e adultos. Raquel Stucchi, infectologista da Unicamp e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, explica que, no trabalho científico, não foram percebidos casos de inflamação do coração. “Acredita-se que eventos do tipo estejam relacionados à reação adversa do imunizante e, também, à dose a qual a pessoa é submetida”, diz ela. A infectologista explica que “diminuir a dose mantém a eficácia, e, possivelmente, diminuir o raro distúrbio cardíaco”.

A injeção da fabricante Moderna também apresentou resultados similares. A dose aplicada foi de cinquenta microgramas, a metade da porção administrada em adultos. Contudo, o imunizante produziu, em média, 1,5 vez mais anticorpos em crianças do que em gente grande que tomou a quantidade completa. A partir dessas informações, imunizar na mais tenra idade se mostra uma prática segura e eficaz, importante para o controle da pandemia, uma vez que as crianças dificilmente desenvolvem a forma mais crítica da Covid. Podem, no entanto, transmitir o vírus.