Pequenos estados insulares pedem ao mundo que proteja sua existência

Pequenos estados insulares pedem ao mundo que proteja sua existência

Dezenas de pequenos Estados insulares, especialmente vulneráveis aos efeitos da mudança climática, fizeram um apelo de reação ao mundo para preservar seu futuro, após a publicação na segunda-feira (9) do relatório dos especialistas em clima da ONU.

O relatório do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) apresenta um panorama desolador sobre o futuro do planeta, caso o aquecimento global não seja contido.

No documento, os especialistas concluem que o ser humano é, “de maneira indiscutível”, responsável pelas mudanças climáticas e alertam que não há outra opção a não ser reduzir, drasticamente, as emissões de gases causadores de efeito estufa.

“Precisamos reverter essa tendência”, disse Diann Black-Layne, principal negociadora sobre o clima da Aliança dos Pequenos Estados Insulares (AOSIS, na sigla em inglês) e embaixadora de Antígua e Barbuda na ONU, conforme comunicado divulgado ontem à noite.

“O fato é que, se limitarmos o aquecimento a 1,5°C, corremos o risco de um aumento do nível do mar de meio metro. Mas, se impedirmos que o aquecimento chegue a 2°C, podemos evitar um aumento do nível do mar de três metros no longo prazo. Nosso futuro está em jogo nisso”, frisou.

A AOSIS agrupa 39 Estados de todo mundo, entre eles Cuba, Jamaica, República Dominicana, Fiji, Maldivas e Timor Leste. Esses países insistem na necessidade de se adotar medidas radicais para limitar o aquecimento a 1,5°C, conforme estabelecido no Acordo de Paris de 2015.

De acordo com o relatório do IPCC, o mundo atingirá este nível em 2030, ou seja, dez anos antes do que o previsto nos cálculos feitos em 2018.

E, mesmo que se consiga limitar o aquecimento a +1,5°C, ondas de calor, inundações e outros eventos extremos sofrerão um aumento “sem precedentes”, tanto em sua magnitude e frequência quanto local e época do ano em que ocorrem, adverte o IPCC.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, declarou que as emissões de gases causadores do efeito estufa derivadas dos combustíveis fósseis e do desmatamento estão “asfixiando” o planeta.

“Não há tempo para esperar, nem lugar para desculpas”, frisou Guterres.

Aprovado na última sexta-feira (6) por 195 países, o primeiro relatório de avaliação do IPCC em sete anos analisa cinco cenários de emissões, do mais otimista ao mais pessimista.

Em todos eles, a temperatura do planeta alcançaria o limite de +1,5ºC em relação à era pré-industrial por volta de 2030. Antes de 2050, este limite seria superado, chegando inclusive a +2ºC, se as emissões não forem reduzidas drasticamente.

Isto representaria o fracasso do Acordo de Paris, que pretendia limitar o aquecimento global a abaixo de +2ºC, ou, se possível, de +1,5ºC.

Entre estas projeções sombrias, o IPCC traz um resquício de esperança.

No melhor cenário, o aquecimento poderá voltar ao limite de +1,5ºC, se as emissões forem reduzidas drasticamente e se for absorvido mais CO2 do que o emitido.

O IPCC afirma, porém, que as técnicas que permitem recuperar em larga escala o CO2 na atmosfera ainda estão sendo estudadas.