“Pepe, o sapo”, o mascote do movimento pró-democracia em Hong Kong

Com seus olhos saltados e sua boca enorme, “Pepe, o sapo” transformou-se no mascote do movimento pró-democracia, três anos depois de ter virado símbolo da extrema direita nos Estados Unidos.

Felpudo, cheio de adesivos, panfletos e origami, o famoso batrácio está presente, há quatro meses, em todas as manifestações em Hong Kong para exigir, entre outras coisas, reformas democráticas.

Esse fenômeno atingiu seu auge na noite de segunda-feira, quando centenas de manifestantes formaram uma corrente humana ao longo da baía.

Alguns seguravam “Pepe” pela mão enquanto usavam sua imagem em camisas, máscaras e capacetes amarelos.

“Nos Estados Unidos, é um símbolo de ódio, mas agora renasce em Hong Kong como um símbolo de amor e liberdade”, afirmou à AFP um estudante de 21 anos chamado Phoenix.

Mas até se tornar o símbolo irreverente do movimento de pró-democracia de Hong Kong, o destino de Pepe foi muito mais sombrio.

Esse personagem até então tolerante e pacífico apareceu em 2005 em um quadrinho online e se tornou o símbolo da extrema direita durante a presidência dos Estados Unidos em 2016.

A tal ponto que seu criador, o autor de livros infantis americano Matt Furie, decidiu “sacrificá-lo” alguns meses depois, e desenhou Pepe em um caixão aberto.

-“Pepe para o povo”-

Mas em Hong Kong e na China, Pepe nunca teve o mesmo significado e é até conhecido como o “sapo triste”.

O aplicativo WhatsApp o tornou especialmente popular no início do ano.

Desde o início das primeiras manifestações em junho, os jovens em Hong Kong começaram a exibi-lo em adesivos e cartazes e Pepe rapidamente se tornou um animal de estimação do movimento.

“O criador de Pepe disse que ele estava morto, mas agora ele está viva de novo”, afirmou um designer gráfico de 26 anos chamado Leung, que participou da cadeia humana organizada às vésperas do 70º aniversário da China popular.

No dia dessas celebrações, Hong Kong sofreu a pior violência em quase quatro meses de mobilização.

Os participantes do protesto explicaram que o caráter excêntrico do famoso sapo deu um pouco de leveza a esses tempos difíceis.

“Ao usar máscaras, queremos expressar nossos sentimentos de outra maneira”, diz Dennis, um estudante de 26 anos que criou uma conta no Instagram para Pepe.

Para os manifestantes de Hong Kong, o ar rebelde do sapo é um reflexo da frustração que eles sentem em relação ao governo local pró-Pequim.

Matt Furie, por sua vez, ficou satisfeito com o renascimento positivo de seu personagem.

“É uma boa notícia! Pepe para o povo”, comemorou em um e-mail.