Protótipos de robótica construídos a partir de sucata levaram a professora paulistana Débora Garofalo a Dubai nesta semana para concorrer ao Global Teacher Prize, considerado o prêmio Nobel da Educação. Ela está entre as 10 finalistas das 10 mil indicações e candidaturas de 39 países. Depois de observar que as crianças da escola Ary Parreiras, na zona Sul de São Paulo, tinham dificuldades para ir ao colégio em dias de chuva, em razão das constantes inundações na comunidade onde vivem, a educadora pensou em soluções em conjunto com os alunos durante as aulas de Informática Educativa. “Ouvindo as crianças, um dos problemas sérios era a questão do lixo, que entupia os bueiros e contribuía para as inundações. E com o lixo, vinham problemas de saúde como leptospirose. Eu não podia falar de outro assunto senão esse, que era primordial para eles”, conta. A experiência de Débora em ensinar os alunos por meio de elementos que façam sentido no seu dia-a-dia e, a partir daí, trabalhar de forma interdisciplinar uma série de conteúdos aplicados em projetos, faz parte de uma nova cultura na Educação: projetar e construir, desenvolvendo habilidades para o futuro.

Criar habilidades e competências nas crianças é um conceito discutido há tempos na Educação, mas foi na formulação da Base Nacional Comum Curricular da Educação Básica, aprovada em 2017 e agora no fim de sua implementação, que essa necessidade foi formalizada. As chamadas habilidades para o século 21 envolvem questões de inteligência emocional, pensamento científico e cidadania. Foram esses princípios que fizeram parte do método pedagógico da escola Lumiar desde sua fundação. A escola, hoje com seis unidades — duas delas na Inglaterra —, tem parcerias com secretarias de Educação em vários estados brasileiros. Ricardo Semler, fundador da Instituição, quis criar um lugar em que as crianças construíssem autonomia para se tornarem adultos capazes de desenvolver e administrar seus próprios projetos.

Gestão participativa

Nesse modelo, o colégio pratica a gestão participativa, na qual os alunos escolhem os projetos que querem desenvolver durante o ano letivo. Os conteúdos de todas as disciplinas são aplicados no contexto de interesse das crianças. Dentre os pensadores que influenciaram esse método estão o brasileiro Paulo Freire, para quem o aprendizado deveria ser desenvolvido dentro da realidade do aluno e do que faça sentido para ele, valorizando-o como indivíduo; e o filósofo norte-americano John Dewey, defensor da atividade prática e da democracia como importantes ingredientes da educação. Um exemplo dessa aplicabilidade foi quando em 2016, ano em que o estado de São Paulo ainda passava pela crise hídrica, os alunos da Lumiar quiseram fazer brincadeiras com água no colégio. O educador responsável aproveitou o momento para explicar às crianças o problema pelo qual as cidades estavam passando e, assim, a turma passou a buscar soluções para reutilização da água na escola. A empreitada terminou com a construção de uma cisterna para coletar água da chuva no local. Na elaboração do projeto, as crianças foram treinadas em operações básicas de matemática para a compra de materiais, conceitos de geometria na construção das estruturas, e estudaram o ciclo da água na disciplina de Ciências.

Além disso, há colégios que tentam se adaptar às questões de tecnologia e conceitos aplicados com soluções mais práticas, já vendidas por empresas de consultoria da área de Educação. Na região do Morumbi, o colégio Pio XII, por exemplo, implantou no último ano uma “sala maker”, espaço que os professores de qualquer matéria podem usar para aplicar os conteúdos.

Alexandre Regatieri do Carmo, coordenador de tecnologia da educação, explica que a busca por essa solução surgiu pela necessidade de incluir a tecnologia no aprendizado das crianças. Para os estudantes, a nova forma de ensinar é bastante divertida e estimulante. O aluno do 6º ano do Pio XII Gabriel Geraldes, de 11 anos, diz que ir para a “sala maker” é o momento preferido do dia. Ele participou da construção de um holograma com os colegas e a professora de matemática. “Foi igual a gente vê nos filmes, mas mais barato de fazer”, conta. O projeto desenvolveu os conceitos de simetria estudados nas aulas e foi construído com folhas de papel branco e preto, além de acetato. “É mais legal que Educação Física”, diz o garoto.

INICIATIVA Alunos trabalham novos formatos e processos para a horta da escola Lumiar de Santo Antônio do Pinhal (Crédito:MARCO ANKOSQUI)