O vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, chegou neste domingo (21) à noite em Israel, onde será recebido com os braços abertos pelos dirigentes israelenses, enquanto os palestinos lhe reservam o desdém.

A visita de Pence, que chegou da Jordânia para a última etapa de sua primeira viagem pelo Oriente Médio, iniciada no sábado no Egito, ocorre após o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Rompendo unilateralmente em 6 de dezembro com décadas de diplomacia americana e com o consenso internacional, Trump realizou – na opinião dos israelenses – um ato “histórico” reconhecendo o vínculo milenar entre os judeus e a cidade.

Para os palestinos, pelo contrário, manifestou abertamente sua posição pró-israelense e deslegitimou os Estados Unidos no papel de mediador de um processo de paz.

Feito excepcional em uma visita deste tipo, Pence não se reunirá com nenhum dirigente palestino.

O vice-presidente disse esperar que “a Autoridade Palestina retome logo o diálogo”, durante uma visita surpresa aos soldados americanos que combatem o grupo extremista Estado Islâmico (EI) perto da fronteira síria, após se reunir com o rei Abdullah II da Jordânia.

Em Jerusalém, coberta de bandeiras americanas, foram colocados grandes cartazes e publicadas propagandas na imprensa israelense para desejar as boas-vindas a Pence, “verdadeiro amigo de Sion”.

“Um grande amigo, um verdadeiro amigo do Estado de Israel chegou esta noite”, afirmou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

Este também lançou uma mensagem ao presidente palestino, Mahmoud Abbas, afirmando “que não há alternativa à administração americana para fazer avançar o processo de paz”.

“Ele é quem não está disposto a falar com os americanos de paz, não quer a paz”, assegurou.

Durante a visita de Pence a Jerusalém, até terça-feira à noite, os dirigentes israelenses tratarão com ele sobre os “atos de agressão” do Irã e suas atividades nucleares, assim como sobre “segurança e paz”, afirmou Netanyahu.

– Abdullah II, preocupado –

Antes que Pence empreendesse a viagem durante a tarde para Israel, o rei Abdullah II da Jordânia expressou em Amã a sua “preocupação” pela situação.

“Jerusalém é fundamental para os muçulmanos e cristãos, como é para os judeus”, disse o monarca, um aliado-chave dos Estados Unidos, cujo país é o guardião dos lugares sagrados muçulmanos na Cidade Santa.

Esta cidade “é crucial para a paz na região e crucial para permitir aos muçulmanos combater eficazmente algumas das causas da radicalização”, insistiu.

O estatuto de Jerusalém é um dos obstáculos do processo de paz israelense-palestino, paralisado desde 2014.

Em 1967, Israel ocupou e depois anexou a parte oriental da cidade, algo considerado ilegal pela ONU. Os palestinos, por sua vez, pretendem fazer de Jerusalém Oriental a capital do Estado ao qual aspiram.

Prevista em princípio para o fim de dezembro, a viagem de Pence ao Oriente Médio foi adiada depois da decisão de Trump, que causou incômodo nos palestinos, violentos protestos nos territórios ocupados e manifestações em muitos países árabes e muçulmanos.

– ‘Restabelecer a confiança’ –

“Estou certo de que a sua visita está destinada a restabelecer a confiança, não apenas para um solução de dois Estados, com Jerusalém Oriental como capital de um Estado palestino independente, como também para conviver com um Estado de Israel seguro e reconhecido, de acordo com o direito internacional”, disse o rei a Pence, acompanhado em sua viagem por sua esposa, Karen.

Jordânia e Egito são os únicos países árabes que assinaram tratados de paz com Israel e poderiam ter um papel importante na reativação do processo de paz.

Pence qualificou de “histórica” a decisão de Trump sobre Jerusalém, enquanto assinalava o compromisso de Washington de “respeitar o papel da Jordânia como guardiã dos lugares sagrados” e de apoiar “uma solução de dois Estados se for os que as duas partes acordarem”.

Apesar de tudo, uma coalizão de partidos árabes no Parlamento israelense anunciou que irá boicotar o discurso do vice-presidente americano na Knesset, e qualificou Pence de um homem “perigoso e messiânico”.

As relações entre Washington e os palestinos se agravaram ainda mais depois da decisão americana, nesta semana, de “congelar” mais da metade de seus pagamentos previstos à agência da ONU para os refugiados da Palestina (UNRWA).