“Vergonha e arrependimento”. Eis duas palavras citadas diversas vezes pelo papa Francisco na “Carta ao Povo de Deus” divulgada na semana passada. Do que se trata a “vergonha”? Do que se trata o “arrependimento”? A primeira expressão se refere diretamente aos crimes de pedofilia cometidos no interior da Igreja Católica. A segunda é mais um mea-culpa pelo fato de as autoridades eclesiais terem se omitido diante dessas barbaridades. Motivou a manifestação de Francisco o chocante relatório da Justiça do estado americano da Pensilvânia, no qual estão arrolados trezentos sacerdotes que se envolveram com pedofilia nos EUA. Como tais atos já compõem o passado, o papa admite que pedir perdão às vítimas não repara o dano. É justamente tal passado, no entanto, que pode impedir que no presente e no futuro se repitam os abusos. Nesse ponto vem a pesada censura de Francisco a todos os católicos, pela primeira vez num documento oficial: precisamos impedir o “terreno propício” que leva à “ocultação” e à “perpetuação”. Nunca na história um pontífice fora tão contundente. E não é para menos: o relatório judicial cita mil vítimas e o cometimento do crime ao longo de sete décadas (ex-padres, abusados quando seminaristas, pedem a renúncia do papa). Trata-se de mais uma manifestação retórica do Vaticano? Não. O papa conclama os católicos a denunciarem “tudo o que possa comprometer a integridade de qualquer pessoa”. O escândalo na Pensilvânia segue outros casos rumorosos: no Chile houve a renúncia de todo o episcopado do país, e, na Austrália, o cardeal George Pell, terceiro na hierarquia do Vaticano, já é réu. O crime recorrente: pedofilia.

“Se o papa não consegue encontrar soluções imediatas para os abusos sexuais na Igreja, ele deve renunciar para que os católicos achem outro líder que possa fazê-lo” Jim Faluszczak, ex-padre, violado quando era seminarista

RUMO A MECA

Munir Uz Zaman

Milhares e milhares de religiosos embarcam em Daca, capital de Bangladesh, para participar do “Festival do Sacrifício” (a histórica celebração do profeta Abraão). Trata-se da tradicional peregrinação anual que leva milhões de muçulmanos a Meca, na Arábia Saudita.

ECONOMIA
Rio de Janeiro, campeão do desemprego

Domingos Peixoto

Pobre Rio de Janeiro: é campeão em tudo o que faz as pessoas sofrerem. A sua região metropolitana passou a liderar, na semana passada, o rol das áreas que concentram maior desemprego no País. Agiu para isso a demissão de 38,4 mil trabalhadores nos últimos doze meses. É triste. Assim como se pode achar triste o temperamento brasileiro que aceita com passividade (nada a ver com a saudável resiliência) o caos criado pelo estamento político dirigente. Não há nada de bom no ditado: “Deus dá o frio conforme o cobertor”. A maioria dos brasileiros dá um jeito em tudo porque é honesta e trabalhadora, ao contrário do referido estamento. O cidadão da foto, desempregado, carrega vinte quilos em latinhas numa rede de náilon. É seu sustento. Anda por dia quarenta quilômetros. Cansa. As latas também lhe servem de cama.

Domingos Peixoto

IDEOLOGIA
A extrema direita mira em Frida Kahlo

Divulgação

Cerca de três mil pessoas estão visitando diariamente, em Budapeste, uma exposição da artista mexicana Frida Kahlo (1907-1954), na Galeria Nacional da Hungria. O sucesso irritou o jornal de extrema direita “Magyar Idok”, que dá apoio incondicional ao governo ultranacionalista de Viktor Orbán. Absurdamente, a mostra é acusada de “promover o comunismo por intermédio de artistas progressistas”.

BRASÍLIA
Maluf é cassado em um “dilema salomônico”

Newton Menezes/Futura Press

A Mesa Diretora da Câmara dos Deputados cassou o mandato do deputado federal Paulo Maluf, condenado pelo STF por lavagem de dinheiro. Que Maluf tinha de ser cassado, disso nem quem serve cafezinho na Câmara tem alguma dúvida. Mas a trapalhada é grande. Uma: o STF ordenou a perda do mandato, o que não é de sua competência, usurpando prerrogativas do Legislativo. Duas: a Mesa Diretora não pode cassar ninguém, somente o plenário. Três: o Corregedor da Câmara, Evandro Gussi, disse que a decisão foi “constrangedora”, um “dilema salomônico”, mas que a Casa tinha de cumprir a ordem judicial. Vale indagar: cassaram então Maluf somente por que o STF mandou? Talvez saiba a resposta o garçom do cafezinho.

EUA
Donald Trump não sofrerá impeachment

Andres Kudacki

A Constituição dos EUA não veta indiciamento de presidentes da República, mas o Departamento de Justiça, sim. Essa é a discussão que espreme Donald Trump: o impeachment o ronda, mas é muito improvável que se concretize. Tal situação foi criada pelas confissões e condenações de seu ex-advogado Michael Cohen (foto) e de seu ex-chefe de campanha Paul Manafort: declararam-se culpados pela chamada “trama russa”, por fraude bancária e pelo pagamento de mulheres que tiveram casos sexuais com o candidato (remuneradas com dinheiro de campanha). A estocada final de Cohen foi dizer que Trump o mandou praticar os crimes. Na história americana, só dois presidentes foram processados: Bill Clinton (1994) e Andrew Johnson (1868). Nunca um presidente sofreu impeachment.