A Covid-19 trouxe mais do que desafios sanitários. A forma como mulheres e homens públicos enfrentam esse dilema diz muito sobre cada um deles. Nos extremos dessa régua comportamental se encontram, de um lado, os que adotam e propagandeiam políticas públicas para enfrentar a pandemia e, de outro, os que ignoram a crise demonstrando terrível insensibilidade. Entre tais pólos existem os mais moderados atuando de forma contida em busca de resultados, evitando confrontos políticos que fadigam e dividem a população. A esperança habita um futuro livre da desgastante polarização que se estende desde as eleições de 2014 e que nos trouxe ao instante político atual, repleto de ódio e insanidade. Enquanto esse momento não chega, é possível avaliar atos concretos, deixando de lado o uso que deles se faz no âmbito político.

Agir, com alarde ou em silêncio, para efetivamente combater a pandemia não pode sequer ser comparado com a teimosia criminosa de ignorar o mal que nos assola e que já matou mais de 200 mil brasileiros. Atuar em prol da vacina, investindo recursos públicos e assumindo grandes riscos inerentes a essa missão, é atitude que merece reconhecimento e aplauso. É prova de responsabilidade à frente da gestão pública. Pouco importa a origem do imunizante, desde que comprovada mínima eficácia pelas autoridades sanitárias brasileiras.

O povo brasileiro deve e pode criticar a gestão de Jair Bolsonaro perante a pandemia. Mais: o sarcasmo diante da dor nacional é inadmissível e imperdoável

Ignorar a pandemia, considerá-la conspiração do país no qual foi constatado o primeiro caso, prejudicar relações diplomáticas com países produtores de vacinas e de insumos indispensáveis à sua produção, desprezar o luto de centenas de milhares de famílias, torcer contra o imunizante brasileiro, lavar as mãos em relação a dificuldades no abastecimento de oxigênio hospitalar, propagar o tratamento com remédios sem qualquer demonstração científica de eficácia, deixar de confirmar opção de compra por vacinas, entre outras condutas, são atos irresponsáveis e reveladores de absoluto despreparo. Não é necessário avaliar como essas medidas foram tomadas. Impõe-se reconhecer que são deploráveis.

Os brasileiros podem e devem criticar gestores públicos. Uma Nação democrática depende de ativa participação social e tem todo direito de questionar políticas sanitárias que afetam a economia, ainda que recomendadas por comitês científicos. O queo Brasil não pode admitir é o descompromisso com a saúde e o sarcasmo diante da dor nacional. Isso é inadmissível e imperdoável.