Criador da Companhia de Jesus, ordem religiosa dedicada à salvação da “alma do próximo” e fundamental na catequese dos povos indígenas nas colônias da Espanha e de Portugal no Novo Mundo, Santo Inácio de Loyola (1491-1556) foi a inspiração para o lema “Trabalha e Confia”, estampado na bandeira do Espírito Santo — o estado brasileiro em que a fé cristã está expressa já no próprio nome. Pois no Brasil de hoje, com 13 milhões de desempregados, trabalhar é antes de tudo um desafio; confiar, então, um risco, sobretudo no que se refere às promessas de candidatos. Trabalhar e confiar deixaram de ser as nobres aspirações dos jesuítas do passado para se tornarem, cada uma a seu modo, verdadeiras miragens para boa parte dos brasileiros.

Semanas atrás, ao participar do debate com os presidenciáveis promovido pela RedeTV! Em parceria com ISTOÉ, tive a oportunidade de fazer uma pergunta ao candidato Cabo Daciolo (Patriota). Nascido em Florianópolis há 42 anos e guarda-vidas do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Benevenuto Daciolo Fonseca dos Santos se elegeu deputado federal, em 2014, pelo PSOL, depois de ter ficado famoso por liderar uma greve de sua corporação. Chegou a ser preso devido ao movimento. Anos depois, como parlamentar, Daciolo aprovou uma lei que anistiou a si próprio e aos demais policiais militares grevistas. Àquela altura, ele era réu em uma ação criminal por associação criminosa e por diversos dispositivos da Lei de Segurança Nacional.

Ter legislado em causa própria não foi a única nota de destaque da atuação de Daciolo no Congresso. Ele também apresentou um Projeto de Emenda à Constituição (PEC) que pretendia alterar o parágrafo primeiro da Carta Magna. Onde está escrito que “Todo poder emana do povo”, Daciolo queria que se escrevesse “Todo poder emana de Deus”. A proposta não foi aprovada, e o deputado acabou expulso do partido por 53 votos a 1. Querer mudar a Constituição e governar seguindo a Bíblia não é uma exclusividade do candidato Daciolo. Evangélicos estão em campanha em todo o Brasil, onde o Estado não é subordinado à Igreja como ocorre em regimes teocráticos totalitários. Somos uma democracia, com liberdade de religião. Perder essa prerrogativa talvez seja a mais grave das ameaças ao povo brasileiro, nessa ou nas próximas eleições.

Somos uma democracia, com liberdade de religião. Perder essa prerrogativa talvez seja a mais grave das ameaças ao povo brasileiro, nessa ou nas próximas eleições