Depois de quase uma semana de suspense e agitação nacional devido à ameaça de renúncia de Pedro Sánchez, o presidente do Governo espanhol e a política espanhola recuperaram, nesta terça-feira (30), uma certa normalidade.

Sánchez presidiu o Conselho de Ministros e concedeu uma entrevista a uma estação de rádio, no seu primeiro dia normal em uma semana.

Na quarta-feira passada, após uma breve participação na sessão de controle do Governo no Congresso, o presidente decidiu suspender toda a sua agenda até segunda-feira e refugiar-se no palácio da Moncloa, conforme anunciou ao público em uma carta nas redes sociais.

Disse que ficou entristecido pelos ataques da oposição sofridos por sua família e, mais especificamente, por sua esposa Begoña Gómez, que se soube naquele dia que seria investigada pela Justiça por “corrupção”.

Depois de cinco dias de reflexão, na segunda-feira Sánchez anunciou que se mantinha na sua posição para “trabalhar incansavelmente, com firmeza e com serenidade, pela regeneração pendente” da “democracia” espanhola, sem dar detalhes de como iria fazê-lo.

“Não informei ninguém sobre a carta, nem informei minha esposa, minha esposa descobriu depois que publiquei a carta nas redes sociais e foi a primeira a me pedir para não renunciar”, explicou ele em entrevista concedida à “Cadena Ser”, em meio a um debate sobre se seu gesto foi sincero ou correspondeu a um cálculo político.

Sánchez acrescentou que decidiu refletir se tinha “força para poder enfrentar um desafio muito sério e muito complexo, como o de lutar contra a desinformação, contra os boatos e contra a campanha de difamação”.

E a resposta, disse ele, é continuar. “Estou ansioso por estes três anos” de legislatura “e por tantos quantos os espanhóis quiserem”, acrescentou o líder socialista, de 52 anos, no poder desde 2018.

– Críticas da oposição –

Mas a oposição de direita insistiu que Sánchez jogou com os espanhóis. “As pessoas sentiram-se, logicamente, manipuladas e insultadas com este comportamento”, disse o conservador Alberto Núñez Feijóo, líder do principal partido da oposição, o Partido Popular (PP).

Feijóo instou Sánchez a explicar o caso que afeta a sua esposa, uma investigação que está sob segredo de Justiça, mas que segundo o veículo digital El Confidencial se concentra nos seus supostos vínculos com o grupo turístico espanhol Globalia, dono da companhia aérea Air Europa, quando esta última mantinha negociações com o Governo para o seu resgate.

“Devido à reiterada ausência de explicações, acabamos de registrar no Congresso dos Deputados um pedido para que o presidente do Governo compareça”, explicou Núñez Feijóo, em uma reunião com os seus deputados e senadores.

Desde que chegou ao poder, há seis anos, a legitimidade do líder socialista tem sido regularmente questionada pelo PP e pelo Vox, de extrema direita, que o acusam de ter se apoiado na extrema esquerda e nos partidos basco e catalão, após uma moção de censura contra seu antecessor conservador Mariano Rajoy.

O contexto político tornou-se ainda mais tenso nos últimos meses depois de Sánchez, que ficou em segundo lugar nas eleições de 23 de julho, atrás de Núñez Feijóo, ter conseguido que o Parlamento o devolvesse ao poder em novembro, graças ao apoio dos partidos independentistas catalães, em troca de uma lei de anistia muito controversa para os separatistas envolvidos na tentativa de secessão da Catalunha em 2017.

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