Reeleito presidente do governo espanhol, o líder socialista Pedro Sánchez se destaca por sua tenacidade e vontade de arriscar, tendências que transformaram sua carreira política em uma montanha-russa.

O jogo não começou bem para esse economista de 47 anos: longe de ganhar reforço como esperava, a nova disputa eleitoral de novembro o levou a perder cadeiras do PSOE (de 123 para 120), obrigando-o a fazer acordo com várias forças para manter o poder.

A equação difícil foi apenas mais um obstáculo a ser superado na tempestuosa carreira política do líder que foi jogador de basquete em sua juventude e que, em 2014, deixou de ser um jovem deputado desconhecido e liderou o partido mais antigo da Espanha.

Apenas 48 horas após as eleições, Sánchez assinou um pré-acordo de coalizão com a esquerda radical do Podemos. Há apenas alguns meses, dizia que não conseguiria dormir em paz, se compartilhasse o governo com eles.

E, então, negociou a abstenção do partido separatista catalão ERC, contra o qual também havia elevado o tom nos últimos meses, depois que eles precipitaram o pedido para as eleições antecipadas em abril.

Seu principal oponente, Pablo Casado, do Partido Popular (PP, conservador), recriminou suas mudanças de posição no debate, atribuindo-as a “um sociopata com interesses pessoais”.

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“Pedro Sánchez, aquele com mil rostos”, ironizou a deputada separatista catalã Laura Borràs.

– Ideologia flexível –

“Ideologicamente, é muito flexível, e isso oferece muitas vantagens”, disse à AFP José Ignacio Torreblanca, diretor do escritório de Madri do “think tank” europeu ECFR.

“Ele é um jogador duro, às vezes imprudente, e se arrisca muito”, acrescenta Torreblanca.

Autor de um livro intitulado “Manual da Resistência”, seu esforço para alcançar o poder em junho de 2018 foi uma corrida importante, na qual ele foi, repetidamente, declarado vencido.

Em 2014, Pedro Sánchez, à época um político quase desconhecido e que fora conselheiro municipal (vereador) e depois deputado de Madri, fez história ao ser o primeiro líder do PSOE eleito diretamente pela militância.

Em 2015 e 2016, ele colheu, de forma sucessiva, os piores resultados do partido em sua era moderna e acabou despojado da liderança por uma rebelião interna.

Seis meses depois, estava de volta, quando venceu eleições primárias após percorrer a Espanha em seu carro.

E, em junho de 2018, fez história mais uma vez. Com o apoio dos nacionalistas do Podemos e catalães e bascos, liderou a primeira moção de censura bem-sucedida na democracia contra o conservador Mariano Rajoy, afundado por um escândalo de corrupção em seu partido.

No poder, causou sensação com um gabinete de 11 mulheres e seis homens, o aumento do salário mínimo em 22% e a polêmica exumação do ditador Francisco Franco de seu monumental mausoléu localizado perto de Madri.

A frágil maioria da moção de censura implodiu em fevereiro de 2019, forçando-o a convocar eleições em abril. Pela primeira vez, Sánchez venceu, mas a relutância em relação ao Podemos o atrapalhou e levou o país de volta às urnas.


Durante sua permanência no governo, recebeu ataques virulentos da direita, especialmente por sua abordagem quanto à independência da Catalunha após a tentativa fracassada de secessão em 2017 na região.

“Traidor”, “mentiroso”, “patético” e “vilão cômico” foram algumas das ofensas que ouviu por parte da oposição.

Nascido em 29 de fevereiro de 1972, Sánchez cresceu em uma família rica. Com 1,90 metro de altura, jogou basquete e estudou Economia antes de obter um mestrado em Economia Política na Universidade Livre de Bruxelas.

Entre a cesta e a política, ele optou pela segunda. Com 21 anos, ingressou no Partido Socialista (PSOE), com o qual começou como conselheiro municipal em Madri (2004-2009) e continuou como deputado no Congresso.

Casado e pai de duas filhas adolescentes, Sánchez é fluente em inglês, ao contrário da maioria dos líderes políticos do país, o que permitiu que atuasse com destaque em cúpulas europeias e internacionais.


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