Acostumado às grandes reviravoltas, o presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, foi empossado nesta quinta-feira (16) para um novo mandato, após uma de suas apostas mais arriscadas: promover uma lei de anistia exigida pelo separatista catalão Carles Puigdemont.

“Aprendi a me esforçar até que o juiz apite no final”, assegurou este fã de basquete, de 51 anos, em uma autobiografia com o título “Manual de resistência” (em tradução literal).

Embora muitas pesquisas tenham-no considerado morto politicamente depois do desastre da esquerda nas eleições locais de 28 de maio, Sánchez, um dos poucos socialistas à frente de um governo europeu, arriscou-se e convocou imediatamente eleições gerais.

Depois de terminar em segundo lugar nas legislativas de 23 de julho, atrás de seu adversário conservador Alberto Núñez Feijóo, Sánchez multiplicou as negociações para formar uma maioria, na esteira do fracasso do líder de direita em sua tentativa de ser empossado como presidente do Governo.

O socialista obteve o apoio da extrema esquerda, com a qual governa há três anos, e também dos partidos independentistas, incluindo o de Carles Puigdemont, em troca de importantes concessões.

A principal delas é promover uma lei de anistia para separatistas processados pela Justiça espanhola, principalmente por seu envolvimento na tentativa de secessão da Catalunha em 2017.

Contrário a essa medida no passado, Sánchez prometeu que vai colocá-la em votação nas próximas semanas, apesar das tensões que o projeto despertou no país.

– Reviravoltas –

Com o apoio já garantido para ser nomeado por uma maioria absoluta dos deputados, Sánchez “conseguiu o que pretendia”, destaca a cientista política Paloma Román, da Universidade Complutense de Madri, observando, contudo, que “a legislatura será complicadíssima” para ele.

Com um sorriso sedutor, o líder do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), apelidado de “El Guapo” no início de sua carreira, é acostumado às reviravoltas, que lhe têm permitido contornar situações difíceis.

Nascido em 29 de fevereiro de 1972 em Madri, filho de mãe funcionária pública e de pai empresário, Pedro Sánchez estudou Economia em Madri e Bruxelas. Concluiu os estudos com um polêmico doutorado em uma universidade privada de Madri, acusado de ter plagiado sua tese, o que ele nega.

Militante do PSOE desde a adolescência, um então quase desconhecido Sánchez se tornou seu secretário-geral em 2014, após as primeiras primárias realizadas nessa legenda centenária.

Dois anos depois, porém, sofreria um duro revés quando, após obter os piores resultados eleitorais da história do partido, foi afastado da liderança socialista por uma rebelião interna.

Graças ao apoio dos militantes, Sánchez retornou com força sete meses depois, após fazer campanha em seu carro por toda a Espanha, ao lado de alguns apoiadores, para seduzir os socialistas de base, que o trariam de volta à liderança do partido.

– Tensão –

Esta perseverança iria levá-lo ao poder em junho de 2018. Reunindo toda a esquerda, além dos separatistas bascos e catalães, conseguiu derrubar, com uma moção de censura, o conservador Mariano Rajoy, enfraquecido por um escândalo de corrupção, e se tornar presidente do Governo.

A falta de uma maioria estável obrigou-o a convocar duas eleições legislativas consecutivas em 2019, nas quais venceu. Finalmente, decidiu formar um governo de coalizão com seus antigos inimigos próximos da esquerda radical do Podemos, conseguindo permanecer no poder.

Apesar de governar com minoria, durante seu mandato conseguiu promover um amplo conjunto de reformas, como o aumento de quase 50% do salário mínimo, uma reforma do mercado de trabalho e da previdência e a lei que reabilita a memória das vítimas da Guerra Civil (1936-1939) e da ditadura de Francisco Franco (1939-1975).

Mas o socialista teve de enfrentar várias polêmicas com a esquerda radical, além de críticas por seus pactos com os separatistas. A reprovação aumentou ainda mais com a lei de anistia, malvista até mesmo dentro do PSOE.

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