O socialista Pedro Sánchez foi reeleito presidente de governo da Espanha pelo Congresso nesta quinta-feira (16), após se comprometer com uma lei de anistia aos independentistas catalães, o que gerou descontentamento nas ruas e duras acusações da oposição.

“Declaro outorgada a confiança do Congresso a Don Pedro Sánchez”, declarou a presidente da Câmara, Francina Armengol, após anunciar que 179 dos 350 deputados votaram a seu favor e 171, contra.

Sánchez, de 51 anos, agradeceu aos “179 deputados e deputadas que deram o seu voto e que representam nada mais, nada menos que 12,6 milhões de cidadãos do nosso país”.

Na manhã desta sexta-feira, Sánchez prestará juramento para o cargo diante do rei Felipe VI, informou a Casa Real.

O candidato recebeu o apoio do seu Partido Socialista (121 deputados), do partido de esquerda radical, Sumar (31), das formações independentistas catalãs, Juntos pela Catalunha (7) e Esquerda Republicana da Catalunha (7), do Partido Nacional Basco (PNV, 5), do independentista basco, Bildu (6), e da única deputada da Coalizão Canária.

“Sei que o processo que nos trouxe até hoje e a este preciso momento não foi fácil para vocês, como também não foi para mim”, admitiu Sánchez, dirigindo-se aos seus deputados socialistas. Ainda nesta quinta-feira, um dos companheiros de partido de Sánchez recebeu uma ovada dos manifestantes mobilizados perto do Congresso.

– Especialista em pactos –

O apoio dos sete deputados do Juntos pela Catalunha de Carles Puigdemont foi o que deu mais trabalho a Sánchez e foi conquistado com a promessa de anistia aos independentistas catalães envolvidos nos protestos e na tentativa de secessão de 2017.

A aposição acusou-o de entregar as chaves do governo a um “fugitivo” – Puigdemont exilou-se na Bélgica em 2017, driblando a Justiça espanhola – e alertou que Sánchez ficará refém das demandas do independentismo.

“Disse ao presidente de Governo que isso era um equívoco”, explicou após a posse o líder da oposição, o conservador Alberto Núñez Feijóo, do Partido Popular (PP), que alertou Sánchez que ele estará “submetido a um contrato mensal” com o independentismo.

Mas Sánchez, um sobrevivente político que chegou ao poder em 2018, graças a uma moção de censura, está acostumado a governar sem maiorias absolutas e pactuando pontualmente com aliados impensáveis a priori.

Nos próximos dias, formará um governo de coalizão com o Sumar, com um programa bastante de esquerda – reduzir a jornada de trabalho, aumentar as ajudas sociais, subir impostos de empresas e de pessoas de alta renda…, – que está pendente do apoio do PNV e do Juntos, próximos ao empresariado basco e catalão.

– Protestos nos próximos dias –

Quanto à lei que pode permitir o retorno de Puigdemont, ela acaba de ser registrada para sua análise no Congresso e possivelmente não será aprovada até o início de 2024.

Esta anistia é necessária para “fechar as feridas” abertas pela crise de 2017, afirmou Sánchez, dizendo que quer garantir “a unidade da Espanha através do diálogo e do perdão”.

Rejeitada pela maioria dos espanhóis, segundo diversas pesquisas de opinião, a anistia levou centenas de milhares de pessoas às ruas no domingo, convocadas pelo PP.

Uma nova manifestação está prevista para sábado em Madri, na qual participarão líderes do PP e do partido de extrema direita Vox.

Há dias, há manifestações diárias da extrema direita em frente à sede do Partido Socialista em Madri, que regularmente terminam em tumultos. Na noite de quarta-feira, mais 15 pessoas foram detidas por perturbação da ordem pública e confronto com a polícia, segundo a Delegação do Governo em Madri.

Devido à tensão, mais de 1.600 policiais foram posicionados, novamente, ao redor do Parlamento nesta quinta-feira. O dispositivo equivale ao de uma partida de futebol de alto risco.

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